Entre as tantas coisas que o amor mudou na vida de Jessica e Wagner, uma delas foi a paixão pelo futebol. Enquanto ela tinha só Pisoni como sobrenome, não ligava tanto assim para o esporte, e nutria simpatia por um time da Capital.
A partir do momento em que acrescentou Copat à identidade, mesmo antes de passar a se chamar assim oficialmente, se apaixonou não só pelo namorado, mas também pelo Esportivo. E a esteticista, que nem de Bento Gonçalves é, um belo dia se viu como gandula na Montanha dos Vinhedos. Eles nem sabiam, mas aquele jogo contra o Caxias, em 2016, foi a primeira ida ao estádio do xodó do casal, Adele, agora com três anos.
Mas para chegar a esse dia, é preciso retroceder uns anos. Na infância e na adolescência, um dos programas de Wagner Copat, hoje um engenheiro civil de 34 anos, era acompanhar seu pai, Ineri Delci Copat, no velho Estádio da Montanha. Seja na elite, na Segunda Divisão do Gauchão ou nas copas de segundo semestre, lá estavam eles ocupando seus lugares na arquibancada. Sempre que possível, seguiam o Tivo (como o clube é chamado carinhosamente) em partidas fora de casa.
Foi em 7 de novembro de 2004 que ficou "famoso". No Estádio Centenário, o Esportivo segurou o 0 a 0 com o Caxias e se garantiu na decisão da Copa FGF — competição que duas semanas depois conquistaria em cima do Gaúcho-PF. Ao final daquela partida, Wagner subiu na tela para festejar. Instantes depois, já em pé, foi fotografado ao lado de amigos e imagem estampou a página 8 do caderno de Esportes de Zero Hora (foto ao lado). Na época, era integrante da torcida Fúria Alviazul, no primeiro ano da organizada.
— Aquele título foi meu primeiro como torcedor no estádio. Foi marcante — conta Wagner.
Garante que seu amigo Bruno Reinoldi já rodou mais de 17 mil quilômetros para acompanhar o Esportivo. Mas o desejo é de que a distância percorrida aumente.
Sonho com vaga no Brasileirão
Mais até do que ganhar o Gauchão, Wagner sonha com a solidez do clube, que voltou em 2020 à Primeira Divisão após cinco anos penando no Acesso. Para ele, o principal objetivo deve ser se consolidar no Estadual (e mais uns três ou quatro pontos devem ser suficientes no segundo turno) e buscar uma vaga na Série D nacional. Então, a partir daí, galgar os degraus rumo às posições maiores.
— É um ano importante para o clube, ainda dentro das comemorações do centenário. O time está dando resposta no campo e está próximo de atingir o principal objetivo, que é a permanência no Gauchão. Tenho certeza de que este trabalho, ao fim do campeonato, pode nos presentear com a vaga para o Campeonato Brasileiro — finaliza o engenheiro civil.
Se em 2004 Wagner era um torcedor loucão, de subir em alambrado, gritar e se emocionar, em 2020... bem, não mudou muito. Mas agora, há outras parcerias além de seu pai. Há 10 anos, Jessica Pisoni entrou em sua rotina de compromissos e, como não poderia ser diferente, de estádio. Já na Montanha dos Vinhedos, ela passou a acompanhar o namorado/marido nos jogos do Esportivo.
Essa foi uma mudança para a menina de Garibaldi que nem torcedora era. Ela descobriu, com o namoro, que havia espaço em seu coração para o clube da cidade vizinha. Virou frequentadora de arquibancadas pelo RS. Envolveu-se no dia a dia do Esportivo.
— Juntamos e fizemos muitas coisas. Chegamos a organizar uma equipe para fazer limpeza no estádio. Arrumamos banheiros, arquibancadas. Isso faz parte do clube — conta, orgulhosa, em mais um exemplo da interação torcida-instituição que o Interior oferece.
Mas foi do lado de dentro do campo que viveu um dos momentos mais inusitados dessa nova paixão. Era 2016, e a FGF havia decidido que só mulheres seriam gandulas em partidas oficiais. Em um jogo contra o Caxias, ela havia ido para assistir e acabou sendo chamada para completar o time de gurias que correriam atrás da bola. Relutou, mas aceitou.
— Foi bem legal, principalmente porque depois desse jogo fiz o teste e descobri que estava grávida. Foi a primeira partida da Adele no estádio, e logo como gandula! — diverte-se.
Bebê-conforto na arquibancada
Hoje, com três anos e quatro meses, Adele é uma espoleta. No dia em que foi gravado o vídeo (acima), estava "um pouco resfriada". Quando a equipe de Zero Hora chegou em sua casa, dormia no colo da mãe. Mas após uns minutos, quando abriu os olhos, deve ter sido difícil fazê-la parar.
Ela correu pela casa, andou de bicicleta, subiu no balanço, comeu bala, encheu e esvaziou balão e posou para fotografias. Se estava resfriada, ao menos naqueles minutos, ficou curada. Deu charme e vida ao vídeo. Imagina o que faz no estádio.
Não íamos perder os jogos, então levávamos ela dentro do bebê-conforto. Aos poucos, foi pegando gosto. Pela idade que ela tem, temos um pouco de dificuldade. Mas é ainda mais emocionante, porque ela também grita e torce no alambrado. Deixa uma vibração ótima.
JESSICA PISONI
Torcedora do Esportivo
— Não íamos perder os jogos, então levávamos ela dentro do bebê-conforto. Aos poucos, foi pegando gosto. Pela idade que ela tem, temos um pouco de dificuldade. Mas é ainda mais emocionante, porque ela também grita e torce no alambrado. Deixa uma vibração ótima — comenta o pai orgulhoso.
No futuro, Wagner e Jessica afirmam esperar que Adele siga seus exemplos. Querem-na presente na arquibancada da Montanha dos Vinhedos, gostando e apoiando o clube da cidade, que completou 100 anos em 2019.
— A história dela no futebol começou ainda dentro da barriga da mãe. Ela vai ver que torcer para um clube do Interior dá um sentimento de prazer maior do que gostar de um grande — finaliza Wagner.