Por Lucio de Brito Castelo Branco
Doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Erlangen-Nuremberg (Alemanha), professor do UniEuro
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Assim é educar desde tempos imemoriais. A fórmula mágica é a internalização da ordem, disciplina, normas e regras comportamentais resultantes em hábitos e em uma fisionomia singular. Educar é conter a entropia dos instintos, viabilizar o desenvolvimento contínuo e sistemático do ser humano.
Trata-se, portanto, de uma relação dialética complexa entre a incorporação de arquétipos e símbolos a fim de propiciar a emergência do talento e da criatividade, mediante a prática da autodisciplina.
Esse processo é similar à “militarização” e pressupõe o controle cronométrico espaciotemporal e a sincronização do movimento com o intuito de civilizar, humanizar. Estrategicamente, a educação sintetiza princípios pautados na ordem, disciplina, repetição, reprovação e vigilância com o objetivo de plasmar a cidadania e a democracia.
A desordem, a erosão da autoridade do professor e a permissividade comprometem e invalidam os objetivos da educação. Liberdade só é possível em função do respeito à alteridade regulada por normas, regras e valores compartilhados socialmente. Ao educador e ao educando, cabe-lhes a estrita observância de um código de ética comum e imperativo. É uma falácia estigmatizar a hierarquia como uma imposição discricionária. A anarquia e a bagunça afogam a criatividade e servem para protagonizar a desintegração social.
É papel do Estado de direito normatizar, regulamentar, garantir a saúde, a educação e a segurança de todos os cidadãos. A realização democrática desses objetivos fundamentais tem como pedra angular a educação de excelência desde o ensino básico até à universidade.
Investir maciçamente na educação é garantir o futuro, as possibilidades de autorrealização da juventude consoante os mais elevados princípios humanísticos. A aplicação de tecnologia de ponta à educação garante a adequação do jovem a um mercado de trabalho cada vez mais seletivo e sofisticado. A informatização e digitalização do trabalho dá-se em uma dimensão global enquanto a essência da educação é, concomitantemente, global e nacional; o universal é um fator de afirmação da cultura e do poder nacional.
A excelência da educação brasileira encerra um ciclo virtuoso, basicamente, a partir de meados dos anos 1980 do século passado. A escola pública, não obstante diversas limitações, cumpria a função de alicerçar a cidadania e um processo de formação adequado. As professoras da escola pública primavam pelo rigor e competência profissional. Muitos dos professores do Ensino Médio da rede pública e também particular eram de notório saber. Os grandes mestres desafiavam a criatividade dos alunos, estimulavam a leitura e a pesquisa em biblioteca. Os currículos do segundo grau atendiam os que procuravam as humanidades ou a ciência.
Há que se reconhecer que o descaso, a incúria e a leniência do poder público exponenciados pelo corporativismo situaram os estudantes em um beco sem saída. A diminuição das horas/aula, a massificação do ensino, a deterioração dos salários, a erosão acelerada do prestígio dos professores e a destruição sistemática da hierarquia entre professores e alunos (perversamente em virtude de apelos ideológicos irresponsáveis e demagógicos), a confusão curricular etc., culminam com a execração e a transformação de uma das nobres profissões em objeto de todo tipo de agressão e violência!