Fora dos rankings de melhores desempenhos do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023, calculado a partir das taxas de aprovação e do resultado de provas de língua portuguesa e matemática, Alagoas e Pará são, ainda assim, destaques no levantamento. O motivo é o crescimento acima da média desses Estados tanto na série histórica como nas últimas três aplicações, o que aponta para uma melhoria constante.
Em 2005, quando o Ideb foi criado pelo Ministério da Educação, Alagoas amargava o último lugar nacional nas etapas dos Anos Iniciais e dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Aos poucos, foi subindo na lista.
Nos Anos Iniciais, se contava com média 2,5 em 2005, chegou a 2015 com 4,7, e, em 2023, com 6, o nono melhor desempenho, empatado com o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso. Já nos Anos Finais, A média subiu de 2,4, em 2005, para 3,5, em 2015, e culminou em 5 em 2023, oitava colocação, empatado com Distrito Federal e Pernambuco.
A secretária-executiva de Desenvolvimento da Educação e Cooperação com os Municípios da Secretaria de Educação de Alagoas, Sueleide Duarte, pontua que o crescimento não ocorreu de uma edição para a outra do Ideb, e é fruto de um trabalho consistente, com uma curva de crescimento acentuada a partir de 2015, quando foi instituído o Programa Escola 10, que promove um regime de colaboração entre as redes estadual e municipais – com poucas matrículas nos Anos Iniciais e Finais, essa foi a forma de o Estado incentivar a melhoria da qualidade de ensino.
— Tomamos a iniciativa, até inspirados em outras experiências, com o caso do Ceará, e instituímos um regime de colaboração no qual os nossos 102 municípios foram convidados a pactuar conosco a melhoria dos resultados na educação, em especial nos que constituem o Ideb, que é o combate à evasão e à infrequência, que resulta no aumento da reprovação, e o trabalho com a proficiência em língua portuguesa e matemática — descreve.
Na pactuação das metas, o Estado, como contrapartida, entrou com investimentos no apoio técnico em relação à oferta de formação continuada para professores das redes municipais. Funciona assim: a Secretaria de Educação realiza capacitações para formadores das 13 regionais, que constituem equipes para capacitar grupos municipais, que formam articuladores de ensino em cada escola. Esse articulador recebe bolsa mensal de R$ 1,5 mil para trabalhar no combate à reprovação e na proficiência das duas disciplinas. São 1,2 mil articulares em Alagoas.
Há, ainda, a oferta de premiações por bons resultados. O prêmio Professor Ib Gatto paga R$ 20 mil para a escola que obteve o melhor resultado no Ideb de cada município em cada etapa de ensino. Também é premiado o melhor crescimento no Ideb em cada regional. Já no Prêmio Escola 10, R$ 20 milhões são rateados entre os municípios que alcançaram a meta pactuada com o Estado. Sueleide destaca que o trabalho é árduo:
Não existe uma receita mágica: existe uma receita cujo maior ingrediente é muito trabalho. É muita reflexão sobre onde melhorar, é muita análise sobre até onde caminhados. É trabalho, investimento e vontade política, porque o investimento não é pouco.
SUELEIDE DUARTE
Secretaria de Educação de Alagoas
Já o Pará estava, em 2005, na terceira pior colocação em relação ao Ensino Médio, com média 2,8. Em 2015 ficou com 3,1 e, em 2023, deu um salto: passou para 4,4 e ficou com a sétima melhor performance, empatado com o Mato Grosso.
O motivo do crescimento envolve uma série de ações em diferentes áreas, conforme o secretário de Educação do Pará, Rossieli Soares, a começar pelo engajamento na participação no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), prova na qual se avalia as competências em língua portuguesa e matemática dos alunos – a participação saltou de cerca de 50%, em 2019, para 12%, em 2021, e 89%, em 2023, abrangendo 93% dos estudantes. Em segundo lugar, Soares destaca a reforma da matriz curricular da rede estadual em 2023:
— Aqui, tínhamos um sério problema: só tinha três tempos (períodos) de matemática e três de língua portuguesa, e passamos para cinco em cada uma. Criamos materiais pedagógicos específicos, a partir de avaliações diagnósticas que fizemos no início do ano, e, a cada bimestre, escrevemos novos materiais. Também passamos a fazer materiais específicos para se suporte para a nossa rede — cita o secretário.
Dos cinco períodos de cada disciplina, três são voltados para o trabalho de recomposição da aprendizagem dos estudantes do Ensino Médio. Para essa aula, é avaliado o nível de cada aluno da turma, para identificar quais as lacunas de conhecimento, a fim de evitar que o estudante prossiga em sua trilha de aprendizagem sem ter aprendido algo que lhe será necessário para entender conteúdos futuros.
A rede estadual realiza, ainda, recuperações a cada bimestre, para evitar que o aluno chegue ao final do ano letivo reprovado.
— Virou uma obsessão não deixar nenhum aluno para trás dentro do processo de revisão — resume Soares.
Foi criado, também, um protocolo voltado para as coordenadorias regionais, que passaram a realizar visitas semanais de equipes técnicas em todas as escolas, a fim de manter um acompanhamento dos resultados das avaliações diagnósticas e do planejamento da instituição para melhorar o que ainda falta.
Além disso, o secretário ressalta o bom salário pago aos professores, de R$ 8.347, que se soma a um sistema de bonificação no qual são pagos 14º, 15º e até 16º salário caso o processo de monitoramento do fluxo dos estudantes seja feito de forma adequada, e caso a média do Ideb cresça. Ainda em relação ao Ideb, o Pará criou uma premiação para os melhores alunos de cada turma, que ganham R$ 10 mil para a família gastar em materiais de construção. Em 2023, 19 mil estudantes foram reconhecidos dessa forma.