No próximo final de semana, o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ingressa em uma nova fase, com datas, horários e dias da semana diferentes daqueles a que os candidatos estão habituados.
Fazia tanto tempo que o concurso costumava ocorrer em manhãs de janeiro, de domingo a quarta-feira, que a UFRGS não conseguiu precisar quando começou essa tradição. Desta vez, o vestibular vai acontecer no ano anterior ao início das aulas, nos próximos dois finais de semana (23, 24 e 30 de novembro e 1º de dezembro), com provas no sábado e no domingo. À tarde.
Para os alunos e as famílias, esta é uma transformação importante. Mudam os prazos de preparação, UFRGS e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) acontecem com diferença de poucos dias e a rotina de férias e final de ano se altera. Essas mudanças foram bem recebidas por muitos dos candidatos.
Desde 2014, João Pedro Alves Vaz, 22 anos, só não fez o vestibular da UFRGS em 2016. Ele passou em 2015, para Fonoaudiologia e, a partir de 2017, começou a tentar o ingresso em Medicina. Apesar de toda essa experiência, o concurso que começa no próximo fim de semana terá sabor de novidade para ele. Para seu sexto vestibular, João Pedro teve de mudar a forma de preparação.
Até o ano passado, o foco dele ao longo do ano era o Enem. Depois de se submeter às provas, ainda sobravam cerca de dois meses para uma imersão na UFRGS. Desta vez, com o intervalo de apenas duas semanas entre os exames, reviu sua estratégia.
— São estilos diferentes de prova. Antecipando o vestibular, não sobra tanto tempo de preparação para os conteúdos da UFRGS. Tive de me organizar de outra forma, fazer exercícios da UFRGS e do Enem ao mesmo tempo. Conciliar os dois atrapalha um pouco porque, como a minha nota no Enem melhorou mais do que a da UFRGS ao longo do tempo, preferi me dedicar mais ao Enem. Tive de deixar a UFRGS meio de lado. Mas não me sinto menos preparado — afirma.
Nos poucos dias entre um exame e outro, João Pedro, aluno do cursinho Peso 3, tem se dedicado à resolução de questões de vestibulares passados. Apesar do tempo curto para uma preparação específica para o concurso da federal, o jovem vê vantagens na antecipação das datas. Às vésperas do Enem, ele fez uma revisão completa de conteúdos — e isso ainda está fresco na sua mente.
— Não tem tempo de esquecer, com as provas pertinho uma da outra. Além disso, fazer o vestibular em janeiro era massacrante. Enquanto todo mundo estava nas festas de fim de ano, comemorando, eu continuava ali, sob tensão, estudando, sem ir para a praia — conta João Pedro, que pensa em passar o próximo Réveillon no litoral, despreocupado.
A realização em dois fins de semana — e não em dias consecutivos — também é vista com agrado por ele. Assim, diz João Pedro, é possível dedicar-se às disciplinas correspondentes nos dias anteriores.
Pedro Henrique Serpa, 19 anos, que vai se submeter ao segundo vestibular para Engenharia da Produção, concorda que a divisão da prova em dois fins de semana é uma boa medida.
— O vestibular em dias consecutivos é desgastante. No último dia, eu já estava cansado — conta ele.
Pedro Henrique também considera positivo que as provas tenham passado do período da manhã para o da tarde. Ele acredita que isso garante mais tranquilidade para o candidato. O vestibulando dorme melhor, não fica preocupado por ter de acordar cedo e tem a manhã para se preparar, sem correrias.
Além de ir para o segundo vestibular da UFRGS, Pedro Henrique, do cursinho Solução Vestibulares, participou das duas últimas edições do Enem. Ele não vê problema na proximidade entre os dois exames.
— Assusta um pouco, porque tu sais do Enem e daí já tens a UFRGS. Mas a impressão é de ser uma mudança boa, uma coisa mais rápida, mais fluida. E para a gente, que se prepara desde o início do ano, o foco vai ser UFRGS, porque quem estuda para a UFRGS, que tem uma prova mais aprofundada, consequentemente já está estudando para o Enem. Além disso, a gente passa o Natal mais tranquilo — avalia.
Outra veterana de UFRGS (terceira vez) e Enem (quatro vezes), Rafaela Sonntag, 19 anos, postulante a uma vaga em Medicina Veterinária, também aprova as mudanças no vestibular da federal. Ela começou o ano fazendo cursinho online e depois passou para aulas presenciais no curso Peso 3. Acredita que o preparo valeu tanto para Enem quanto para UFRGS, já que as matérias cobradas são parecidas.
— Particularmente, gostei, porque o ano do vestibulando é exaustivo. Terminar em janeiro tornava esse período mais cansativo ainda. Muitas vezes, passava Natal e Ano-Novo apreensiva com a prova. Não era bom.
Outro ponto negativo era não viajar, ou viajar e ter de voltar — atrapalhando, por tabela, os planos de férias do resto da família.
Rafaela conta que, nos vestibulares anteriores, chegou ao terceiro dia já cansada, o que a faz aplaudir a divisão em dois fins de semana. Também gostou do horário da tarde.
— Não precisa sair tão cedo de casa — diz.
Cursinhos precisaram se adequar às mudanças
A mudança exigiu ajustes nos cronogramas dos cursinhos pré-vestibular. Roberta Dutra, coordenadora do Universitário Litoral, aponta que, antes, as aulas da modalidade extensiva tinham início na metade de março e, neste ano, precisaram ser antecipadas. O término do ano letivo nos pré-vestibulares também será mais cedo, já que, até o ano passado, as aulas ocorriam até a véspera da prova da universidade federal.
— Esses dois meses fazem muita diferença, especialmente porque agora as duas principais provas, do Enem e da UFRGS, passarão a acontecer quase juntas, ambas em novembro. Temos bem menos tempo para preparar para a UFRGS — comenta.
A solução foi revezar durante todo o ano o ensino de conteúdos focados no Enem e na UFRGS. Até 2018, dicas e macetes específicos para o processo seletivo da federal eram oferecidos justamente nos dois meses após o exame nacional.
Apesar da necessidade de mudanças, Roberta considera que as mudanças vêm, no geral, para o bem: diminuirá em dois meses o desgaste dos estudantes e acabará com a maratona de quatro dias seguidos de provas.
— Até para nossa própria organização interna é bom que se faça as provas aos finais de semana, porque podemos preparar uma semana inteira de revisão antes do exame.
O coordenador-geral do Método Medicina Pré-Vestibular, Fabiano Albuquerque, revela que, em um primeiro momento, o anúncio da antecipação do calendário assustou seus alunos e sua equipe, mas a trajetória ao longo do ano se mostrou satisfatória. Até mesmo os momentos de descanso e o acompanhamento psicológico dos vestibulandos de Medicina foram garantidos no cronograma montado pelo pré-vestibular.
— Os alunos gostaram, porque o ano encerra antes e, agora, eles conseguem antecipar o resultado e aproveitar o período de Festas. Com a nossa equipe, fizemos várias dinâmicas, conseguimos oferecer a mesma quantidade de aulas prevista anteriormente e prever estudos focados em Enem e UFRGS nas semanas anteriores às provas — cita.
Para depois do Enem, o foco está sendo retomar matérias mais conectadas à realidade do Rio Grande do Sul, como história e geografia gaúchas, que são mais pertinentes à UFRGS. Com os exames sendo feitos com uma semana de diferença entre eles, mais um ganho:
— Conseguimos oferecer uma carga horária maior, na semana anterior à prova, com as disciplinas dos exames que serão aplicados, em vez de fazer uma revisão intensiva sobre todos os assuntos.