Pode parecer não ter a ver, mas a antecipação da realização do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem relação com a política de cotas.
Segundo a vice-reitora, Jane Tutikian, nos últimos anos, a universidade constatou que o tempo necessário para verificar se os candidatos classificados como cotistas se enquadravam nos critérios estabelecidos provocava um problema: o ano letivo começava sem que esse trabalho tivesse terminado. Apesar de esse ser o motivo da alteração, Jane entende que há várias outras vantagens.
Confira a entrevista com a vice-reitora da UFRGS:
Por que a universidade decidiu antecipar a realização do vestibular?
Nos últimos anos, vem aumentando o número de cotistas. Estamos com 50% de cotistas de 2016 para cá. Isso exige uma série de documentos de comprovação, e temos de formar várias comissões: socioeconômica, de heteroidentificação, de PCDs (pessoas com deficiência). Faltava tempo. Como é um número muito grande de candidatos, chegava março e tínhamos de aplicar matrículas precárias, ou seja, o aluno poderia ter a sua matrícula cancelada depois. Não era bom para a universidade e gerava insegurança para o estudante. Por isso, decidimos antecipar a realização das provas, para ter mais prazo até o início do semestre. Nossa expectativa é ter tempo para analisar documentos comprobatórios e fazer outras verificações, como de declaração de raça e de deficiência, de modo que em março todos estejam matriculados.
Desde quando o vestibular da UFRGS era realizado em janeiro?
Fizemos uma pesquisa e não conseguimos chegar à data exata. Mas é algo que muda uma tradição. Nunca fizemos o vestibular com tanta antecedência ou em dois finais de semana, como agora.
Qual o motivo para, em vez de realizar o concurso em dias consecutivos, como sempre ocorria, a UFRGS ter decidido fazê-lo em dois finais de semana?
Ainda é período escolar. As provas da UFRGS ocorrem em 46 espaços, muitos deles escolas. Nesta época do ano, não teria como fazer durante a semana, porque não começaram as férias. Vejo essa mudança como algo muito bom, porque, da forma como fazíamos, o vestibular era uma grande maratona, quatro dias muito desgastantes. Os candidatos chegavam ao final em um estado de exaustão. As provas não mudam, é o mesmo calendário, mas o intervalo torna o processo menos desgastante. Já perguntavam se não podíamos fazer o vestibular antes das Festas e das férias de verão, para as famílias passarem esse período mais tranquilas. Outro ponto positivo de fazer no fim de semana é o trânsito. Já conversamos com a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), mas não deveremos ter nenhum problema.
Por causa dessa mudança de data, tornou-se inviável usar o Enem como décima nota?
Isso era opcional. Um número pequeno de alunos usava. Tenho ouvido dizerem que a UFRGS desistiu do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas em 2018 só 5% usaram a décima nota. Em 2017, foram 3%. Estávamos usando duas vezes o Enem, se pensarmos que 30% das vagas vão para o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e que ainda tínhamos essa décima nota. É uma mudança definitiva, mas não deve causar nenhum prejuízo, porque realmente era pequeno o número de alunos que usava o Enem. E sempre foi um problema para nós, porque o resultado do exame só sai em janeiro. Terminávamos a correção do vestibular antes da nota do Enem ser divulgada e, por isso, não podíamos liberar o listão. Tínhamos de telefonar e pedir para eles divulgarem as notas.