A economia do Rio Grande do Sul segue mostrando sinais de recuperação neste ano. Os três principais setores ficaram no azul no primeiro semestre no Estado. Serviços e comércio seguem na ponta em termos de avanço, mas a indústria, mesmo em patamar diferente, conseguiu resultado positivo no acumulado do ano fechado em junho, desempenho que não manteve nos últimos meses.
Os dados são das pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas na última semana. Espaço maior para recuperação nos setores de serviços e comércio e aquecimento da atividade industrial ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas.
Motor da economia no país, o setor de serviços segue na ponta com o maior avanço no Estado. O segmento acumula avanço de 15,4% na primeira metade do ano. Em junho, mês com dados mais recentes na pesquisa, o setor cresceu 2,1%. Olhando por atividades, serviços prestados às famílias (42%) seguem na dianteira. Hotelaria, bares e restaurantes estão entre os ramos dentro desse grupo.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que o bom desempenho de serviços era esperado porque o setor tem espaço para recuperar após o choque causado pela pandemia nas atividades que dependem de maior circulação.
— A gente vê os serviços indo melhor do que o comércio porque ainda tem muita demanda reprimida nos serviços. Boa parte daquele impulso fiscal da primeira metade do ano foi para serviços. As pessoas estão retomando o consumo desse segmento — explica.
Patrícia destaca o desempenho das atividades turísticas, que cresceram 42,1% em junho, ante o mesmo mês do ano passado, e 62,7% no acumulado do ano:
— Quando você tem uma recuperação da atividade, um inverno frio, como a gente está tendo, e turismo para atender essas pessoas, que vão em busca disso, já que existe uma demanda reprimida, a gente tem tudo para configurar um resultado bem positivo.
Quando você tem uma recuperação da atividade, um inverno frio, como a gente está tendo, e turismo para atender essas pessoas, que vão em busca disso, já que existe uma demanda reprimida, a gente tem tudo para configurar um resultado bem positivo
PATRÍCIA PALERMO
Economista-chefe da Fecomércio
Mesmo com queda em junho, o comércio concentra aumento de 8,5% no ano no Estado. Olhando por atividades, o grupo de tecidos, vestuário e calçados é um dos destaques, com alta de 19,3%. A economista-chefe da Fecomércio-RS afirma que o varejo e os serviços tiveram dinâmicas diferente durante o processo de retomada em meio à crise sanitária, o que ajuda a explicar esse crescimento em nível menor:
— O comércio começou a recuperação antes e não teve um choque tão profundo quanto o setor de serviços ao longo da pandemia.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do RS (UFRGS) Maurício Weiss relembra que os serviços sentem menos os impactos da alta dos juros na comparação com indústria e comércio.
— Compras de maior valor agregado, como automóveis e eletrodomésticos, e os setores imobiliário e da indústria da construção civil são bem afetados pela taxa de juro — reforça Weiss.
Esse somatório de recuperação de veículos, setor externo aquecido e estímulos por parte do governo para consumo mantém a indústria e a economia como um todo aquecidas
ANDRÉ NUNES DE NUNES
Economista-chefe da Fiergs
Após uma sequência de números negativos em fechamentos de acumulado do ano, a indústria encerrou o primeiro semestre no azul, mas com avanço tímido de 0,4% no Estado, percentual que mostra estabilidade. O desempenho foi puxado, principalmente, pelo segmento de fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias, que saltou 14,7% no período. A indústria também conta com uma base de comparação muito forte do ano passado, o que dificulta crescimentos percentuais mais elevados neste ano na produção.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), André Nunes de Nunes, afirma que o avanço do setor ocorre diante de uma série de fatores. Recuperação do grupo de veículos automotores e aquecimento de demanda estão entre os pontos que explicam esse desempenho, segundo Nunes.
— Esse somatório de recuperação de veículos, setor externo aquecido e estímulos por parte do governo para consumo mantém a indústria e a economia como um todo aquecidas.
Tendência de acomodação
Olhando os dados de comércio e serviços ao longo de 2022, é possível observar que, mesmo em alta, esses setores mostram certa desaceleração no acumulado do ano com o passar dos meses. A economista-chefe da Fecomércio-RS afirma que esse movimento é esperado em um cenário de recuperação porque o desempenho desses segmentos vai se acomodando conforme a retomada avança.
Nesse sentido, Patrícia Palermo estima um ambiente de acomodação para os próximos meses. No âmbito do comércio, a economista projeta perda de apetite diante de alguns fatores, como menos impulsos fiscais e taxas de juros ancorando o crédito. Nos serviços, Patrícia estima manutenção de avanço em cima de demanda reprimida, mas com tendência de perda de ritmo:
— A gente caminha para um processo de estabilidade. Acho que a gente não vai conseguir repetir o primeiro semestre que tivemos.
Na indústria, o economista-chefe da Fiergs afirma que pesquisas e sondagens da entidade mostram empresários otimistas em relação aos próximos meses.
— Quando a gente olha o que eles pensam tanto para a demanda interna quanto para as exportações e para a contratação de trabalhadores, eles se mostram confiantes.
O professor Maurício Weiss, da UFRGS, também estima cenário mais favorável para serviços nos próximos meses. Impulso em programas de repasse de renda e efeitos menores dos juros em elevação mantêm esse movimento, segundo o especialista:
— O setor de serviços deve, de novo, sentir menos por conta de agora, no segundo semestre, a partir de agosto, estar entrando aumento do Auxílio Brasil. Teve também esse desconto do ICMS de combustíveis e energia elétrica, que provocou deflação em julho e dá um certo alívio no poder de compra.