Uma moto elétrica de cor verde vibrante e totalmente silenciosa chama atenção em cada esquina que cruza pela região metropolitana de Porto Alegre. Quem conduz o veículo é o engenheiro Anderson de Paulo, um dos adeptos da tecnologia que aos poucos começa a ganhar terreno no Rio Grande do Sul. O mercado vem em crescimento no país, sobretudo pela economia diante da alta dos combustíveis.
— Nos mil quilômetros que rodei com ela em fevereiro, se tivesse rodado com uma moto a combustão teria gasto cerca de R$ 360 em gasolina, óleo e manutenção. Com ela, se tivesse pago energia, teria gasto R$ 40. Como tenho sistema solar em casa, gastei R$ 0,69 para rodar mil quilômetros. É um veículo que se paga — diz Paulo sobre o desempenho de sua moto elétrica modelo scooter, que custou R$ 18,4 mil.
Segundo o Sincodiv-RS, que representa concessionárias e distribuidoras, foram emplacadas 85 motos elétricas no Estado entre janeiro e junho de 2022. O número ainda representa menos de 1% do mercado geral de motos, mas vem evoluindo. Em todo o ano passado, foram 39 emplacamentos desse tipo.
Na avaliação do vice-presidente da entidade, Rogério Schröder, o segmento ainda é muito incipiente no país, principalmente porque as grandes marcas de motos ditas tradicionais ainda não entraram no ramo, por fatores tecnológicos. Enquanto isso, as estreantes do mercado nacional abrem caminho.
É o caso da pernambucana Voltz, principal player do mercado, que inaugurou nova fábrica este ano na Zona Franca de Manaus para produzir até sete vezes mais. Desde a sua concepção, a linha foi projetada para crescer, mirando capacidade produtiva de 15 mil motos por mês. Hoje, com dois meses de operação, cerca de 2 mil saem da planta, com previsão de dobrar no próximo mês.
Enquanto não atinge o seu auge, a marca opera com fila de espera. São cerca de 10 mil pessoas no aguardo.
O desafio de todas as empresas que estão no mercado de elétricos são os suprimentos, diz André Turton, diretor comercial da Voltz. Por isso, a fábrica no Brasil permite controlar melhor a cadeia, dependendo menos de outros países. Até então, a empresa importava todas as peças da China e montava as motos no Brasil. Agora, passará a fabricar alguns componentes próprios.
Na única loja da Voltz em Porto Alegre, o supervisor de vendas Antônio Carlos Figueira Garcia Júnior diz que são vendidas, em média, 70 motos elétricas ao mês. E não há pronta-entrega, apenas um sistema de reserva. Uma delas foi a do engenheiro Anderson de Paulo, que precisou aguardar três meses desde a compra até receber o veículo.
— Toda hora e em qualquer lugar que eu pare as pessoas me perguntam da moto — diverte-se Paulo.
Investimento que se paga
No mercado atual, uma moto elétrica é cerca de 20% mais cara do que outra movida a combustão. O seu diferencial está realmente na economia futura: calcula-se que as elétricas sejam oito vezes mais econômicas que os modelos tradicionais. Além disso, sua operação é barata, não exigindo troca de peças. Outro ponto positivo é que não há cobrança de IPVA para o tipo de veículo no Rio Grande do Sul.
Os modelos custam, em média, entre R$ 15 mil e R$ 25 mil, dependendo das especificações e da quantidade de baterias. Os modelos da Voltz, por exemplo, comportam até duas.
— Uma pessoa que roda 3 mil quilômetros por mês vai gastar 66 litros de gasolina, em média, e R$ 460 de gasolina. Numa elétrica, deve gastar, talvez, 20% disso, ou seja, de R$ 400, vai gastar R$ 80 — calcula Rogério Schröder, do Sincodiv-RS.
O consumo da bateria está relacionado à condução — velocidade, distância, terreno onde trafega (se é íngreme ou não). No geral, uma carga completa consegue rodar até cem quilômetros na scooter e 120 quilômetros no modelo esportivo. Por isso, o principal apelo desses veículos são os deslocamentos urbanos.
Já o tempo de recarga da bateria leva cerca de cinco horas e pode ser feito em qualquer tomada simples, desde que com o carregador apropriado do veículo.
— O impacto na rede de energia é baixíssimo. E a facilidade de carregar é enorme, muito mais fácil que o carro elétrico. Você tem na bateria o principal valor desse veículo, mas, como tem poucas peças móveis comparado a um veículo a combustão, traz muito menos gasto com manutenção — acrescenta Rui Almeida, vice-presidente de Veículos Levíssimos da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Dados reais calculados pelo engenheiro Anderson de Paulo, comparando o consumo e o gasto entre a moto elétrica e o veículo a combustão, mostram economia mensal de R$ 327,18 optando-se pelo primeiro tipo de veículo. Já comparado ao consumo de um carro convencional, a redução de valor no mês chega a R$ R$ 646,52, considerando o preço da gasolina a R$ 6,89 em junho (veja a tabela abaixo).
Tendência veio para ficar
Para o setor e os usuários que já apostaram na tecnologia, a opinião é de que as motos elétricas vieram para ficar. As motocicletas em geral são mais econômicas do que os carros. E as elétricas tendem a ser ainda mais econômicas do que uma moto a combustão. Com a produção se estendendo para as fabricantes dos modelos ditos tradicionais, a expectativa é de um crescimento significativo no segmento elétrico.
— Nossa frota é de 30 milhões de motos a combustão e menos de 50 mil elétricas. No futuro, o número será invertido. Ainda está bem embrionário e pode crescer muito nos próximos anos. É um caminho sem volta — prospecta André Turton, diretor da Voltz.
— Definitivamente, é algo que veio para ficar. Há uma tomada de decisão em nível mundial que não dá outro caminho que não seguir esse. A partir deste momento, é tudo uma questão de em quanto tempo o Brasil se adequa a esse novo cenário. Uma pena que ainda não tenha no país uma política nacional de eletromobilidade. Temos uma matriz energética que é uma das melhores do mundo para o veículo elétrico e temos condição de nos tornarmos 100% sustentáveis — avalia Rui Almeida, da ABVE.