A disparada no preço dos combustíveis e a consolidação das motocicletas como meio de trabalho, especialmente para entregas, têm aquecido a venda de veículos sobre duas rodas. No Rio Grande do Sul, a procura chega a ter fila de espera nas concessionárias.
Em março deste ano, foram emplacadas 2.963 motocicletas no Rio Grande do Sul. O volume representa crescimento de 52,03% na venda de motos em comparação ao mesmo mês do ano passado. Os dados são da Fenabrave/Sincodiv-RS, que representa concessionárias e distribuidoras. Entre janeiro e março, foram 6.692 emplacamentos, alta de 37,02% ante ao primeiro trimestre de 2021.
Vice-presidente do Sincodiv-RS e empresário do setor de motos, Rogério Schröder avalia que o mercado está aquecido desde o final de 2020, muito em parte pela pandemia, o que levava a acreditar, na época, que seria um movimento passageiro. Mas o crescimento persistente do setor no começo deste ano prova que não se tratava de uma bolha e que, além do fator combustível, tem a ver com uma mudança de estilo de vida dos motoristas.
— Com a economia de combustível, ele paga a moto e ainda adquire um bem para a família. Fora os que optam pela mobilidade, para ganhar tempo no trânsito, ou ainda para fugir do transporte coletivo e ter mais liberdade de deslocamento — diz Schröder.
Até fevereiro, a frota de motos, motonetas e ciclomotores em circulação no Rio Grande do Sul era de 1.236.341 veículos, conforme o Detran-RS.
No Brasil, o status é de recorde. Pela primeira vez em mais de 30 anos, as vendas de motos superaram as de carros no país. Foram 274.766 motocicletas vendidas de janeiro a março, crescimento de 33,68%. Alta que vem na contramão do segmento de veículos em geral, cujas vendas em 2022 acumulam queda de 7,58% sobre o mesmo período do ano passado. No RS, o tombo é maior, de 13,48% no trimestre.
Gerente comercial da Turbo Moto, concessionária da Honda que vende modelos novos e seminovos em Porto Alegre, Leandro Viegas da Silva também observa procura mais aquecida no segmento desde o começo do ano. A grande demanda tem gerado, inclusive, fila de espera de 30 a 60 dias na loja.
— Praticamente não tem estoque. Só monta e entrega — diz Silva.
Segundo o gerente, há grande procura de clientes que utilizam os veículos a trabalho, em serviços de entrega, que cresceram consideravelmente durante a pandemia. A rodagem acima da média desgastou as motocicletas e os motoristas estão trocando por modelos novos e mais avançados.
— Também tivemos demanda grande na linha de scooters (modelo de uso urbano e mais simples, em que o piloto só acelera e freia, sem troca de marchas), principalmente pela questão de largar o carro e ser mais fácil de pilotar — acrescenta Silva.
Os modelos mais procurados nas concessionárias são os de melhor custo benefício. As motos de 150 a 250 cilindradas são encontradas a partir de R$ 15 mil. Já as scooters ficam na média de R$ 18 mil a R$ 19 mil. E há, ainda, as opções mais em conta, como a Biz, que custam entre R$ 13 mil e R$ 16 mil.
A economia de combustível é um dos principais motivos que fazem com que o carro perca espaço entre os motoristas. A autonomia de uma moto de 150 cilindradas pode chegar a 40 quilômetros por litro de combustível, por exemplo. E foi a opção do vendedor Juliano Menna Barreto, que abriu mão do automóvel e recentemente adquiriu uma moto para fazer os deslocamentos.
Barreto trabalha na Zona Sul, mas mora na zona norte da Capital. Considerando outras voltas de rotina, a rodagem pela cidade chegava a 250 quilômetros por semana — distância que exigia abastecer cerca de R$ 50 quase diariamente, conta. Agora, com a moto, gasta em torno de R$ 85 para encher o tanque e rodar três semanas.
— A gasolina com o preço que está hoje... Resolvi deixar o carro em casa, optando pela moto — resume o vendedor.
Na avaliação do vice-presidente do Sincodiv-RS, a tendência é de que o mercado se mantenha aquecido ao longo do ano. As facilidades de crédito, embora mais caro mas com linhas de financiamento alongadas para o segmento, e as opções de consórcios para motos são consideradas como impulsos.
Para suportar a demanda, as fábricas das principais montadoras instaladas no Brasil estão com aumento de produção programado para o segundo semestre. A Abraciclo, entidade que representa as fabricantes de motos, mantém perspectiva de aumento de 7,9% na produção em 2022, totalizando 1,29 milhão de veículos. O volume projetado supera em 16,4% o total fabricado em 2019, antes dos resultados serem afetados pela pandemia.