As vendas do comércio varejista no Rio Grande do Sul despencaram 13,1% em abril, em relação ao mês anterior, aponta a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Influenciado pelos efeitos da pandemia de coronavírus na economia, o desempenho divulgado nesta terça-feira (16) foi pior registrado desde 2000, quando o levantamento começou a ser realizado.
No comércio varejista ampliado, que inclui os setores de veículos e materiais de construção, o tombo no Estado foi de 9,1% frente a março.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Oscar Frank, acredita que abril pode ter sido o 'fundo do poço" para o comércio gaúcho. Isso porque, naquele momento, muitas lojas permaneceram fechadas, atendendo a decretos de prefeituras e do governo do Estado. Com as flexibilizações a partir de maio, a tendência é de que o cenário seja diferente em novas atualizações da pesquisa.
— A queda em abril é bastante significativa, ela materializa essa crise que vivemos desde meados de março. Com base nos dados das notas fiscais em maio, notamos um processo de "despiora". A atividade econômica segue recuando, frente a 2019, mas em uma intensidade menor do que aquilo que vimos no início da pandemia — afirma.
O clima de incertezas segue pairando na economia, lembra a economista-chefe da Ferderaçao do Comércio de Bens e Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo . A perda de renda da população, ocasionada pelo aumento do desemprego e das medidas de redução da carga de trabalho, e o enrijecimento das regras para abertura de lojas na Capital e no Interior, verificado nas últimas semanas, devem afetar o desempenho das empresas gaúchas. Mesmo com a abertura das lojas, a demanda segue distante da verificada antes da pandemia.
-Se a demanda não volta ao que era, como a empresa vai manter os empregados? E se tiver que fechar de novo? Isso é muito complicado e novas levas de demissões vão vir. Além da tragédia derivada da própria doença, vamos viver outra dimensão de impacto com a perda do emprego e da renda - analisa Patrícia.
Em comparação com o mesmo mês de 2019, a retração no Rio Grande do Sul é ainda maior: 17,7% no comércio varejista e 27,7% no comércio varejista ampliado. No acumulado dos quatro primeiros meses de 2020, ambos os grupos têm resultados negativos, de 5,2% e 10,3%, respectivamente.
Em abril, a maior queda foi verificada no ramo de livros, jornais, revistas e papelaria, com recuo de 85,5% em relação ao mesmo período de 2019. Na sequência aparecem tecidos, vestuário e calçados (-78,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-62,1%), veículos, motocicletas e peças (-62%) e móveis e eletrodomésticos (-39,2%). O IBGE não divulga o recorte estadual com comparação a março.
O único grupo a crescer entre os 10 analisados foi o de hipermercados e supermercados, com avanço de 4,8%.O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS), Antônio Cesa Longo, destaca que a Páscoa e o aumento de campanhas para doação de alimentos a pessoas impactadas pela crise ajudam a explicar a elevação no período. Ainda assim, o dirigente constata que o ritmo de negócios vem desacelerando em relação ao início da pandemia, quando muitos consumidores correram aos estabelecimentos para fazer estoque de itens.
— Pelo caráter essencial da atividade, ela seguiu crescendo. Ainda assim, o perfil da compra mudou. As pessoas têm ido menos vezes ao supermercado, mas fazendo compras maiores — avalia.
Brasil tem queda de 16,8% em abril
No país, a queda no comércio varejista em abril chegou a 16,8% frente a março, o pior nível da série histórica. No comércio varejista ampliado, o volume de vendas retrocedeu 17,5% em abril, na comparação com o mês anterior. O resultado foi puxado pelo setor de tecidos, vestuário e calçados, com retração de 60,6%. Na sequência vieram livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%) e veículos, motos, partes e peças (-36,2%).
Frente a abril de 2019, a queda também é de 16,8% no varejo e de 27,1% no varejo ampliado. O único setor com expansão em nível nacional foi o de supermercados e hipermercados, com alta de 4,7%. Todos os demais ficaram no vermelho, puxados por tecidos, vestuário e calçados (-75,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-45,6%), móveis e eletrodomésticos (-35,8%) e combustíveis e lubrificantes (-25,3%).