Correção: Luciane da Cunha Lopes integra o conselho fiscal da Câmara de Dirigentes Lojistas de Uruguaiana (CDL Uruguaiana), e não é mais a presidente da entidade, como publicado entre 20h14min de segunda-feira (15) e 14h27min de terça-feira (16). O atual presidente é João Batista Saldanha.
Empresários demonstram preocupação com o aumento das restrições para frear o avanço do coronavírus em quatro regiões do Estado. Na visão de comandantes de entidades, o fechamento de setores como o comércio aumenta incertezas na economia e tende a resultar em novas demissões nos próximos dias. Isso pode ocorrer, segundo eles, porque empresas já amargavam dificuldades de caixa em razão da pandemia.
A maior rigidez no combate à covid-19 foi confirmada no sábado (13). Na ocasião, o governo do Estado anunciou que as regiões de Caxias do Sul, Santa Maria, Santo Ângelo e Uruguaiana receberam a bandeira vermelha no modelo de distanciamento controlado. A mudança passou a valer nesta segunda-feira (15), mas encontrou resistência de prefeituras, além dos questionamentos no meio empresarial.
Na prática, as quatro regiões têm de registrar melhora em indicadores da área da saúde para retornar, em duas semanas, à bandeira laranja. Até lá, lojas de ramos não essenciais do comércio devem permanecer fechadas. Em segmentos da indústria, determina-se redução no número de trabalhadores dentro das fábricas.
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Ivanir Gasparin, afirma que parte das lojas não tem fôlego financeiro para aguentar mais duas semanas com as portas fechadas. Diante desse cenário, Gasparin teme o fim de negócios, com novas demissões:
— Vemos isso com muita preocupação. As empresas que têm de fechar são as que mais sofreram até agora. A gordura acabou.
Em abril, Caxias do Sul perdeu quase 5,1 mil empregos com carteira assinada, indicam dados do Ministério da Economia. O saldo decorre da diferença entre demissões e contratações. Na indústria, o principal motor local é o polo metalmecânico. Segundo o plano do governo estadual, fábricas do ramo de metalurgia devem operar com 50% dos funcionários na bandeira vermelha — na laranja, o percentual era maior, de 75%.
— As indústrias montaram uma estrutura para se adequar a normas. Mas, como existem muitas incertezas, não conseguem aguentar por tanto tempo, e as demissões vão aumentar — aponta Paulo Spanholi, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), que representa 3,3 mil empresas.
Na Fronteira Oeste, o tom do discurso é similar. Integrante do conselho fiscal da Câmara de Dirigentes Lojistas de Uruguaiana (CDL Uruguaiana), Luciane da Cunha Lopes projeta que, se negócios pararem por duas semanas, o quadro no mercado de trabalho "vai piorar". Ela acrescenta que as cerca de 2 mil lojas da cidade também sofrem pelo fechamento da fronteira com a Argentina.
— Estamos fazendo esforços, mas a situação está muito difícil. Temos de lutar por um distanciamento responsável, mas que não prejudique tanto o comércio, que é o grande empregador do município — conta.
O governo do Estado confirmou, na semana passada, mudanças em indicadores do modelo de distanciamento social. Na prática, o Palácio Piratini apertou regras, o que pode favorecer a entrada de regiões na classificação vermelha ou preta — bandeiras com mais restrições. As alterações foram anunciadas em meio ao crescimento de mortes e internações por coronavírus em unidades de tratamento intensivo (UTI). Projeções sobre o comportamento da pandemia nas semanas seguintes são avaliadas para a definição das bandeiras, por exemplo.
— Se você não parar agora, lá na frente a conta vai ser maior, tanto em vidas, na saúde das pessoas, quanto na economia — afirmou nesta segunda-feira (15) o governador Eduardo Leite, em entrevista ao Jornal do Almoço, da RBS TV.
Em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) endossou a onda de contestações no meio empresarial. Na visão da entidade, a troca de bandeiras "gera insegurança a empreendedores e empregados". "A expectativa da Fiergs é de que o modelo considere os dados verificados, utilizando as previsões somente para alertas e recomendações, sem impor medidas regionais de retrocesso para a saúde pública e para a sociedade", diz o posicionamento.
A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS) também manifestou contrariedade. "Empreendimentos com muitos anos de existência correm o risco de fechar suas portas para sempre. Milhares de pessoas dependem da atividade comercial para sobreviver", afirma.
Porto Alegre, mesmo com bandeira laranja, restringe atividades
A prefeitura de Porto Alegre publicou decreto, nesta segunda-feira (15), que busca diminuir a circulação de pessoas diante do avanço do coronavírus. Na prática, a medida também reduz o número de estabelecimentos comerciais e de serviços que podem seguir em atividade na Capital. O município manteve a bandeira laranja no plano estadual de distanciamento controlado, e há autorização para medidas mais rígidas do que as recomendadas pelo Palácio Piratini.
Para permitir ou barrar operações no comércio, a prefeitura levou em conta a receita dos negócios. Assim, 5,3 mil empresas com faturamento superior a R$ 4,8 milhões por ano devem parar de funcionar enquanto não houver mudança nas regras. Cerca de 30 mil pessoas trabalham nessas operações, que representam 8,6% dos CNPJs do comércio.
Por outro lado, em torno de 56,1 mil negócios podem seguir em funcionamento, já que faturam até R$ 4,8 milhões por ano. São os casos de microempreendedores individuais (18 mil), microempresas (33 mil) e empresas de pequeno porte (5,1 mil).
"Liberamos paulatinamente alguns setores e sempre alertamos que, se houvesse necessidade, poderíamos voltar a restringir. E isso infelizmente aconteceu, com o crescimento da velocidade de ocupação de leitos de UTI", disse, em nota, o prefeito Nelson Marchezan.
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Irio Piva lembra que havia a possibilidade de o decreto ser ainda mais restritivo neste momento. Portanto, considera que o documento publicado foi "melhor" do que o previsto inicialmente, embora o comércio "não tenha motivo para comemorar".
— Muitas empresas já estavam em situação difícil, fizeram estoque para reabrir e agora precisam fechar. Algumas mercadorias são sazonais. Com as lojas paradas, como é possível vendê-las? Não se sabe como essas empresas vão manter o funcionamento. Tem o risco de o desemprego aumentar — diz Piva.