Destravar novos projetos no setor de energia é uma das missões econômicas do Rio Grande do Sul. Apesar do potencial na área, o crescimento de fontes como a eólica foi prejudicado nos últimos anos por causa de dificuldades de transmissão. Esse segmento tem o papel de conduzir a eletricidade produzida em parques e usinas até as linhas de distribuição, que chegam aos endereços dos consumidores.
Um sopro de alívio foi registrado em dezembro do ano passado. À época, em leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cinco grupos de investidores arremataram cinco lotes de obras previstas para o Estado, com aporte estimado na ocasião de cerca de R$ 5,3 bilhões. O pacote abrange a construção de 2,9 mil quilômetros de linhas de transmissão e 10 subestações, com prazo de conclusão de quatro a cinco anos após a assinatura dos contratos.
A maior parcela do investimento integrava o chamado Lote A, que estava mergulhado em impasse desde 2014. À época, a Eletrosul, subsidiária da Eletrobras, venceu leilão para fazer as obras. Diante da crise em suas finanças, buscou parceria com os chineses da Shanghai Electric. Em setembro do ano passado, quando havia esperança de que um acordo pudesse desengavetar os empreendimentos, os asiáticos comunicaram a desistência. Com isso, a Aneel cassou a concessão da Eletrosul e promoveu novo leilão em dezembro.
– O Rio Grande do Sul foi muito prejudicado por não ter como ampliar sua capacidade de escoar energia nos últimos anos. Novos empreendimentos não avançaram. Com as obras feitas, o Estado pode se recuperar – observa o consultor Ronaldo Lague, especialista na área.
Apesar de analistas mencionarem que o investimento pode beneficiar todo o setor, a Aneel frisou, ao promover o leilão, que as novas subestações e linhas de transmissão têm como finalidade a "integração do potencial eólico do Rio Grande do Sul". Mesmo com as dificuldades vividas recentemente, o Estado seguiu entre aqueles com maior poder de geração de energia a partir do vento no Brasil.
Em agosto, a capacidade instalada nos 81 parques eólicos do Rio Grande do Sul continuava em 1,8 mil megawatts (MW), a quarta marca mais elevada do país. Na área, o Estado só fica atrás de representantes da Região Nordeste. A liderança do ranking é do Rio Grande do Norte, que pode gerar até 4 mil MW, indicam dados da Aneel, compilados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura.
– Com as obras previstas, o Rio Grande do Sul voltará a ter conexão em seu sistema. Agora, também é preciso avançar na melhora do ambiente de negócios, com política favorável a fontes de energia renovável. O investidor vai olhar para cá e querer saber como é o processo de licenciamento – pontua o presidente do Sindicato das Empresas de Energia Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), Guilherme Sari.
Em capacidade instalada, os 1,8 mil MW dos parques que operam a partir do vento representam 21% da matriz energética do Estado, conforme a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura. A primeira fonte é a hidrelétrica (53%), seguida por usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis (22%).
O secretário estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos Júnior, ressalta que o Rio Grande do Sul reúne projetos de parques eólicos que podem adicionar em torno de 7 gigawatt (7 mil MWs) à capacidade instalada – significaria quadruplicar o atual potencial de geração. Os empreendimentos estão em diferentes fases de licenciamento na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e dependem do avanço das obras de transmissão para sair do papel.
Segundo Lemos, os trabalhos de construção e operação dos parques poderiam resultar em investimento de R$ 44 bilhões. Apesar de destacar o potencial eólico, o secretário defende a polêmica tese de que o Rio Grande do Sul precisa manter uma matriz energética diversificada, incluindo fontes não renováveis, como o carvão mineral. A ideia, segundo ele, é garantir o abastecimento aos gaúchos durante todo o ano.
– Precisamos trabalhar com equilíbrio. Isso não quer dizer que devemos virar as costas para o carvão, por exemplo. Quando for necessário, quando o vento não for bom, ou houver menos chuva, as usinas movidas a combustíveis fósseis podem dar garantia de abastecimento – avalia o secretário.