Gargalos logísticos são apontados como responsáveis por parte das dificuldades que atingem a economia gaúcha. Ao avaliarem as condições da área, empresários e economistas reforçam uma demanda histórica: a necessidade de o Rio Grande do Sul melhorar as condições de suas estradas para beneficiar a produção e o translado de mercadorias.
No Estado, o modal rodoviário representava 88% do transporte de cargas em 2017. No Brasil, a parcela no mesmo período era menor, 65%. Ou seja, o Rio Grande do Sul dependia mais das estradas para a circulação de produtos. Os dados integram o Plano Estadual de Logística de Transportes (Pelt-RS), divulgado em 2018 pelo governo gaúcho.
– A margem de investimento do Estado é um dos empecilhos para o seu desenvolvimento. Basta ver a quantidade de estradas que precisam de melhorias. Isso gera custos aos produtores. Cada pneu de caminhão que estoura nas rodovias também tem impacto para o consumidor – pontua o economista Ely José de Mattos, professor da PUCRS.
Em 2018, o Rio Grande do Sul tinha 54,7% de suas estradas estaduais e federais em condições péssimas, ruins ou regulares, indica a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Os 45,3% restantes foram considerados pela entidade como bons ou ótimos. O estudo analisou variáveis como pavimento e sinalização em 8,8 mil quilômetros no Estado. No Brasil, o percentual de rodovias péssimas, ruins ou regulares foi de 57% – maior do que o gaúcho.
Diante da penúria das contas públicas do Estado, o governo Eduardo Leite pretende se aproximar do setor privado para ampliar investimentos em logística. Em março, o Piratini lançou o RS Parcerias, que busca conceder à iniciativa privada a administração de estradas e outros ativos que hoje estão sob o guarda-chuva público.
As duas primeiras rodovias com trechos contemplados pelo programa são a RS-287 e a RS-324. A intenção é concedê-las a investidores por 30 anos. Segundo o Piratini, em troca da instalação de pedágios, os grupos que assumirem as duas estradas farão aporte total de quase R$ 3,4 bilhões, o que inclui obras de duplicação.
– Não vejo problema algum no fato de o governo fazer concessões ao setor privado. Tenho simpatia por uma série de parcerias. A questão é que isso tem limites. Não adianta só espalhar pedágios – analisa Ely.
Na RS-287, o trecho que deverá ter a capacidade ampliada é de 204,5 quilômetros, entre Taquari e Santa Maria. Na RS-324, a duplicação contemplará 115,3 quilômetros, de Passo Fundo a Nova Prata. Secretário estadual de Governança e Gestão Estratégica, Claudio Gastal afirma que, passadas as fases de consulta pública, os editais de concessão deverão ser publicados até o fim do ano. O leilão tende a ocorrer no primeiro trimestre de 2020, na bolsa de valores de São Paulo.
– A bolsa traz visibilidade. Pode atrair grupos internacionais. O Brasil vive uma crise. Com isso, Estados e municípios estão buscando concessões – argumenta Gastal.
A promessa de parcerias com o setor privado recebe elogios no meio empresarial. Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, a possibilidade de duplicação da RS-287 anima lideranças locais. Diretor da Xalingo Brinquedos, Flávio Haas explica que a ideia de ampliação da rodovia ganhou fôlego nesta década. Para ele, a partir da duplicação, a economia da região terá novos estímulos:
– Logística é um assunto importante não só para Santa Cruz. A duplicação da RS-287 será fundamental para a área. Poderá incentivar a chegada de investimentos, além da redução de custos e tempo de entrega de produtos.