Um dos economistas mais respeitados no Estado, Pedro Dutra Fonseca avalia que o Rio Grande do Sul tem potencial de avanço em áreas intensivas em conhecimento e tecnologia. Apesar disso, frisa que setores tradicionais da economia gaúcha não podem ser deixados de lado. Nesta entrevista, o professor da UFRGS também sugere que o governo estadual atue como um "incentivador" de parcerias entre empresas e universidades.
Quais são os potenciais da economia gaúcha?
O Rio Grande do Sul tem potencialidades em áreas intensivas em conhecimento. Há uma rede de universidades muito boas na formação de pessoas. Temos áreas fortes, como o setor primário, com peso importante na economia do Estado, além de intensivas em tecnologia. Um diferencial é a rede de formação de pessoas espraiada pelo território. O que seria preciso? Investimento mais forte em ciência e tecnologia.
Investimento que envolva parcerias entre os setores público e privado?
Sim. É onde a parceria pode dar mais certo. Já há uma certa experiência. No setor primário, por exemplo, é muito forte a interação entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), as universidades do Interior e a própria UFRGS. Outra questão interessante é a dos investimentos na área de saúde. Há uma rede muito boa de hospitais públicos e privados no Rio Grande do Sul. Temos ótimas faculdades de Medicina, sempre muito bem cotadas em qualquer ranking federal. No Estado, são feitos transplantes, cirurgias complexas. Também vejo que essa é uma área com vantagem comparativa. Além dos setores tradicionais, como agronegócio, de calçados, do vinho, as áreas de ponta seriam aquelas intensivas em conhecimento.
Quais os desafios para unir a inovação tecnológica ao capital humano?
O Rio Grande do Sul tem universidades de qualidade. O convênio entre UFRGS, PUCRS e Unisinos (movimento batizado de Aliança para Inovação) é superimportante para fazer um trabalho conjunto. Também há iniciativas no Interior. Universidades comunitárias são muito voltadas para suas regiões. São potencialidades, mas o Rio Grande do Sul não pode descuidar daquilo em que já mostrou ter tradição. Por exemplo, fico muito chateado com a perda da indústria de calçados no Estado. É um setor muito importante. Temos, por exemplo, a parte do fumo em Santa Cruz do Sul, o vinho. São indústrias tradicionais. Não podemos ter o fetiche de só pensar no que é de ponta e descuidar daquilo em que historicamente já mostramos ter background. Essas indústrias empregam muita gente.
O que é necessário para que indústrias tradicionais não percam ainda mais fôlego?
Muitas indústrias tradicionais do Rio Grande do Sul são exportadoras. O Estado sofreu com o dólar baixo. Além disso, tem relação forte com a Argentina, que vive instabilidade. O país teve problema no governo de Cristina Kirchner (2007–2015), e Mauricio Macri (atual presidente) não resolveu. Pelo contrário, piorou. Isso afetou as indústrias do Estado, como a calçadista. O importante é o empresário aprofundar a interação com as universidades e os centros de pesquisa. O governo gaúcho não tem dinheiro. O que ele pode ser, por exemplo, é um aglutinador. Um provocador. O governo pode ajudar a promover isso. Há muitos setores da economia do Rio Grande do Sul com vínculos com instituições de pesquisa. Houve uma época em que se acreditava em um governo financiador, que oferecia juro subsidiado ou isentava impostos, criava incentivos fiscais. Hoje, é impossível pensar nessa situação. O Estado está quebrado. Não há mais espaço para fazer renúncia fiscal, nem para aprofundar os gastos públicos. Outra coisa que o Estado pode fazer, e tem gente para isso, é a realização de estudos.