Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (19), no Palácio Piratini, o governador Eduardo Leite fez um desabafo sobre a frustração da venda de ações do Banrisul. Segundo ele, a operação "foi consistente", mas o preço ofertado ficou aquém do esperado e o governo "jamais venderia (os papéis) a qualquer custo para cumprir promessa de campanha" – de voltar a pagar salários em dia.
— Fizemos a estruturação do negócio de forma muito consistente. Prova disso é que os maiores bancos do mundo estiveram presentes. Tivemos, sim, ofertas suficientes para que se vendesse o lote completo. No entanto, o preço ofertado não atendia ao que compreendíamos como razoável. O negócio era consistente e importante para o Estado, mas jamais faríamos uma venda a qualquer preço. Jamais faríamos aquilo que, ao longo das últimas semanas, tivemos de escutar silentemente, por regras estabelecidas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários, que regula ofertas do tipo). Ouvimos, muitas vezes, que o governo venderia na bacia das almas, venderia a qualquer preço, apenas para cumprir uma promessa. Jamais isso foi cogitado — afirmou.
Leite fez críticas à imprensa, por ter ouvido especialistas e publicado reportagens sobre o processo em curso, que poderia ajudar o governo a desafogar o caixa e a quitar a folha do Executivo em curto prazo. Nas palavras dele, "o debate público certamente comprometeu o ambiente" e "contaminou o cenário". Conforme o governador, o Estado "tem sua premência por recursos para, inclusive, o pagamento de salários e isso foi interpretado, em um movimento do mercado, como oportunidade para especular e reduzir a um valor muito baixo as ações". Leite reclamou do que definiu como "ataques especulativos" por parte de investidores.
— Toda a imprensa bebeu das informações ofertadas por especialistas que desconheço e que representam interesses outros, distintos. É importante ser dito. Tem de ser dado a eles um grande desconto nas suas afirmações. O projeto todo foi bem estruturado e bem coordenado. Agora, negociar com as câmeras, com o debate público, com todos os dias jornais dando páginas inteiras debatendo a situação fiscal do Estado e como seria utilizado o dinheiro das ações, evidentemente, isso criou um ambiente que tornou a operação inviável — disse.
Secretário estadual da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso reforçou o entendimento do governo quanto à qualidade da operação, apesar do desfecho. O que ocorreu, segundo ele, "foi uma contaminação do preço da operação, pela percepção que se teve da fragilidade financeira do Estado".
— O Banrisul e o Estado foram ao mercado acompanhados de um primeiríssimo time do mercado de capitais. A bolsa está na sua máxima histórica, com recorde de emissão de ações. De forma alguma, esse era um movimento fora do contexto favorável do mercado. Não era um movimento de desespero. Era uma oportunidade favorável para o Estado. O que aconteceu foi uma contaminação do preço da operação, pela percepção que se teve da fragilidade financeira do Estado, que sempre é um risco — avaliou Cardoso.
Leite garantiu que mantém o compromisso de regularizar os salários do funcionalismo, por entender que o parcelamento impede o desenvolvimento do Estado e impacta na economia do Rio Grande do Sul.
— Esse é um propósito firme do nosso governo, que continua a ser perseguido — destacou.
O mandatário afirmou ainda que "não se visualiza no curto ou médio prazo" repetir a tentativa de venda de ações do banco público, com a ressalva de que "nenhuma ação está descartada". Reafirmou o compromisso de não privatizar o Banrisul, mas abriu margem – pela primeira vez – para essa possibilidade, se houver apoio do Legislativo:
— A questão da privatização é um compromisso que assumimos. Não vejo espaço para que haja a privatização do banco e continuamos nesse sentido. Se nada mudar no cenário da Assembleia em relação a isso, não haverá disposição desse governo de levar qualquer privatização a efeito.
Questionado sobre o que planeja fazer, até o fim de 2019, para conseguir voltar a pagar a folha em dia, Leite destacou que há "uma série de medidas" no horizonte. Entre elas, citou a tentativa de adesão ao regime de recuperação fiscal, a negociação com o Tribunal de Justiça para uso do fundo de reaparelhamento do Judiciário e a briga, em Brasília, pela alteração nas regras de distribuição do pré-sal. Nenhuma delas, contudo, depende exclusivamente do desejo do governador.
— A recuperação do quadro fiscal não é simples. Essa era uma grande oportunidade (a oferta de papéis do banco). Infelizmente, não resistiu a tantos movimentos especulativos, mas o governo segue obstinado em voltar a pagar em dia os servidores. Não se trata apenas de cumprir promessa de campanha. Sem isso, o Estado não conseguirá superar suas dificuldades — concluiu.