Julho foi um mês morno para a bolsa brasileira, que, mesmo batendo recordes, teve leve alta de apenas 0,84%. A aprovação da reforma da Previdência, com ampla margem de votos, em primeiro turno na Câmara dos Deputados, não foi o suficiente para manter o viés de alta e nem para reter os estrangeiros.
O período tem a maior retirada de capital do exterior desde outubro de 2018. O saldo é negativo em R$ 5,15 bilhões, segundo dados preliminares da B3. Em 2019, a saída é de R$ 9 bilhões.
A primeira semana de julho foi uma das melhores do ano, com alta de 3%. No período, a bolsa foi de 100 mil a 104 mil pontos com a aprovação do texto-base da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara.
Na semana seguinte, mesmo com a aprovação da reforma em primeiro turno no plenário da Casa, o índice iniciou sua trajetória de queda.
No dia da votação projeto, 10 de julho, a bolsa bateu dois novos recordes. Durante o pregão, o Ibovespa cravou nova máxima, em 106.650 pontos. No fechamento, o recorde histórico também foi renovado, a 105.817 pontos.
— Quem está segurando o Ibovespa é o investidor doméstico e o institucional. Os estrangeiros estão se posicionando em ativos da Ásia, que são mais seguros. O gringo não vai tomar o risco de entrar na bolsa agora. Ele pode perder essa primeira pernada, mas o ciclo estrangeiro é mais longo, de dois, três anos — afirma Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.
Nas demais semanas de julho, com o recesso parlamentar, o índice passou a acompanhar mais de perto o cenário externo e acumulou quedas, terminando no patamar de 101 mil pontos. No saldo do mês, a bolsa registra alta de 0,84% em julho.
— É saudável para a bolsa, que saiu dos 89 mil pontos para os 105 mil pontos em sete meses, ter uma pausa para a acomodação de preços — afirma Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual.
Zanlorenzi também destaca a guerra comercial entre Estados Unidos e China e a desaceleração da economia global.
— O cenário lá fora está bem turbulento, o investidor no pé no freio e o estrangeiro está menos propenso a emergentes como um todo — explicou.
A expectativa era de que o investimento estrangeiro voltasse ao Brasil com o avanço da reforma da Previdência, crucial para conter o déficit fiscal. Agora, economistas preveem este retorno apenas em 2020, quando o trâmite da reforma estiver concluído.
Bolsas internacionais
Em julho, as bolsas americanas tiveram desempenho levemente acima do Ibovespa. O índice Dow Jones acumulou alta de 1%, S&P 500, de 1,3%. Já o índice de tecnologia Nasdaq acumulou alta de 2% no mês.
Na Europa, a bolsa de Londres teve alta de 2,17%. Já Paris recuou 0,36% e Frankfurt, 1,7% em julho.
O dólar teve trajetória semelhante e depreciou 0,6% no mês. No melhor momento do real, em 18 de julho, a moeda americana foi a R$ 3,7290, menor patamar desde fevereiro. Desde então, o dólar ganhou força e voltou a R$ 3,82 nesta quarta, com alta de 0,71% em relação a véspera.
No cenário internacional, o dólar ganhou força nas duas últimas semanas com a expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos e consequente melhora da economia americana. Em julho, há alta de 2,6%.
Com o avanço da reforma da Previdência, o risco-país medido pelo Credit Defaut Swap (CDS), espécie de seguro contra calote, acumula queda de 15,5% no mês. O contrato de cinco anos foi de US$ 150 a US$ 125, menor patamar desde setembro de 2014, antes das eleições que reelegeram Dilma Rousseff.
A curva de juros também teve forte no período. O contrato futuro de juros para dezembro deste ano foi de 6,18% para 5,63%.
O índice reflete a expectativa do mercado. Segundo o boletim Focus, a Selic deve terminar o ano 5,5% e permanecer neste patamar em 2020.
Taxa básica
Nesta quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou corte na taxa básica de juros do Brasil. A maioria O colegiado reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, de 6,5% para 6% ao ano, renovando a mínima histórica da taxa.
O Fed, banco central americano, por sua vez, já anunciou corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros dos Estados Unidos que, agora, passa a faixa de 2% a 2,25% ao ano.
O anúncio já havia sido precificado pelo mercado, que, inclusive, cogitava um corte de 0,5 ponto percentual. No anúncio da decisão, o Fed indicou que novos cortes talvez não sejam necessários.
As bolsas de Nova York, que já operavam em queda, aceleraram perdas. Dow Jones recuou 1,23%, S&P 500, 1,09% e Nasdaq, 1,23%.