Analistas do mercado financeiro já trabalham com a ideia de que a CPFL Energia será a maior interessada na CEEE, com privatização prevista para 2020. Além de opiniões coletadas pela coluna Acerto de Contas de que a empresa faria a oferta mais forte pela estatal gaúcha, a análise apareceu agora em relatórios de bancos. São documentos tradicionais que destrincham os balanços e trazem expectativas para empresas com capital aberto, ou seja, ações negociadas na bolsa de valores.
Destaque para a possibilidade de sinergia de operações, já que a CPFL já é dona de outras empresas de energia no Sul. Isso significa também uma consolidação no mercado local, o que é bem visto por investidores.
Um dos documentos é da Bradesco Corretora. No texto, há a ponderação sobre boas oportunidades de fusão e aquisição para a CPFL. Como "líder da lista", aparece a CEEE, citada diversas vezes no relatório. O texto coloca como fator importante a proximidade da área de atuação da RGE, empresa de energia também aqui do Rio Grande do Sul e que é da CPFL. Lembra ainda que o grupo de energia comprou a AES Sul em 2016.
Usando conceitos bem característicos do mercado financeiro e avisando que é uma avaliação bem preliminar, o Bradesco chega a projetar quanto a CPFL pagaria pela CEEE. Procurado pela coluna Acerto de Contas, o sócio da gestora de fundos da Quantitas Wagner Salaverry explicou:
— O que eles estão dizendo é que mesmo que a CPFL pague entre 1,5 vez ou 1,7 vez a RAB (Base de Ativos Regulatórios) da concessão da CEEE, ainda assim geraria um resultado positivo para a CPFL. Isso porque a nova dona da CEEE consegue gerar retornos muito altos gerindo suas concessões. Mesmo pagando um pouco "caro" pela CEEE, valeria a pena se a CPFL conseguir melhorar os resultados da CEEE e igualá-los aos de suas outras concessões.
O negócio em potencial também foi destaque no relatório do Morgan Stanley sobre a CPFL. O banco destacou as mudanças positivas que o grupo fez quando adquiriu a AES Sul, implementando sinergia de operações com a RGE, que da já era dono. Sem ser tão direto quando o Bradesco, a colocação do Morgan Stanley sinaliza que isso seria feito também com a CEEE, que enfrenta sérios problemas financeiros. Ainda no decorrer do documento, o banco coloca detalhes de operação e financeiros da CEEE para análise dos investidores.
A CPFL já é, atualmente, a terceira maior geradora privada de energia no Brasil. Atualmente, já distribui energia para dois terços da população do Rio Grande do Sul.
Importante lembrar que a empresa é controlada pela estatal chinesa State Grid. Fundada em Pequim em 2002, ela chegou ao Brasil em 2010. No ano passado, investiu R$ 6 bilhões e está atuando em 14 Estados.
Já o Grupo CEEE é dividido em CEEE-D, que cuida da distribuição de energia até o consumidor final, e CEEE-GT, responsável pela geração de eletricidade nas usinas e pelas linhas de transmissão. Em 2018, o endividamento do grupo ultrapassou R$ 4,5 bilhões. A CEEE-D pode perder a concessão por resultados financeiros ruins. Em 2018, teve prejuízo de R$ 989,3 milhões, 1.030% acima de 2017. Já a CEEE-GT teve lucro, mas soma passivos acima de R$ 2 bilhões.
Tem como atrativo o contrato de concessão de 30 anos, com a distribuição de luz para um terço da população do Rio Grande do Sul (incluindo Porto Alegre, Região Metropolitana e Litoral). Já os problemas são os prejuízos financeiros, baixa capacidade de investimento e o risco de perder o direito de vender energia se não superar as dificuldades.