O endividamento da CEEE, na avaliação de analistas, não deve ser impeditivo à possível privatização. Pelo contrário: mesmo correndo o risco de perder a concessão, a CEEE-Distribuição (D) é especialmente cobiçada no mercado. Em eventual leilão, a participação da CPFL, controlada pela estatal chinesa State Grid, é dada como certa. Em 2018, o ex- presidente da empresa Wilson Ferreira Jr. (hoje no comando da Eletrobras), disse que comprar a CEEE-D “faria todo sentido”. Dona da RGE, a CPFL já distribui energia para dois terços da população do Estado.
– É uma candidata natural à disputa – resume Mikio Kawai Junior, diretor-executivo da Safira Energia.
O êxito do processo é condicionado ao formato do negócio. Há pelo menos duas dúvidas: se a oferta envolverá todo o grupo ou será dividida entre CEEE-D e CEEE-GT (geração e transmissão, na qual a principal interessada seria a Eletrobras), e se incluirá o passivo bilionário. A segunda questão é mais controversa. Quando dívidas entram no pacote, o preço mínimo da venda tende a baixar. Também é comum que governos assumam ao menos parte da conta para não espantar possíveis compradores.
Um exemplo disso foi a privatização da distribuidora da Companhia Energética de Goiás (Celg-D). Vendida à italiana Enel por R$ 2,2 bilhões em novembro de 2016, a empresa estava em situação calamitosa, ainda pior do que a da CEEE-D.
– A Celg-D se deteriorou a ponto de se tornar a pior do Brasil. Como encontrar compradores para empresa assim? Não teve jeito: o Estado teve de assumir parte do passivo, ou não apareceriam interessados – diz a economista Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman Brasil.
Como secretária da Fazenda de Goiás, Ana liderou o processo e afirma que “não foi fácil” – o primeiro leilão fracassou, e o preço inicial teve de ser reduzido. Até hoje, a venda é alvo de questionamentos e segue provocando controvérsia.
Contrário à forma de condução do processo, o atual governo de Ronaldo Caiado (DEM) alterou a legislação para obrigar a Enel a arcar com dívidas geradas entre 2012 e 2015, que haviam ficado com o Estado, e o caso foi parar na Justiça. Apesar da polêmica, a ex-secretária defende a venda da Celg-D:
– O fato é que a alternativa à privatização era muito ruim: desabastecimento, perda da concessão, quebra da empresa. No fim, conseguimos vender com ágio de 28%, e a Enel se comprometeu a investir R$ 5 bilhões em dois anos e meio. Nos 10 anos anteriores, a empresa não recebeu nem R$ 1 bilhão.
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A EMPRESA
O Grupo CEEE é dividido em CEEE-D, que cuida da distribuição de energia até o consumidor final, e CEEE-GT, responsável pela geração de eletricidade nas usinas e pelas linhas de transmissão.
Situação
Em 2018, o endividamento do grupo ultrapassou R$ 4,5 bilhões. A CEEE-D pode perder a concessão por resultados financeiros ruins. Em 2018, teve prejuízo de R$ 989,3 milhões, 1.030% acima de 2017. Já a CEEE-GT teve lucro, mas soma passivos acima de R$ 2 bilhões.
CEEE-GT
-Funcionários ativos: 1.091
-Usinas próprias: 15
-Linhas de transmissão: 5.902 quilômetros
-Acionistas: CEEE-PAR (65,92%), Eletrobras (32,59%) e outros (1,49%)
-Receita líquida (2018): R$ 974,7 milhões
-Lucro líquido (2018): R$ 173,4 milhões
-Patrimônio líquido (2018): R$ 2,372 bilhões
Principal atrativo
Registrou lucro nos últimos dois anos e tem as contas em dia.
Principal problema
Passivos acima de R$ 2 bilhões, a maior parte de origem trabalhista.
CEEE-D
-Funcionários ativos: 2.291
-Municípios atendidos: 72
-Clientes: cerca de 4,8 milhões de pessoas
-Acionistas: CEEE-PAR (65,92%), Eletrobras (32,59%) e outros (1,49%)
-Receita líquida (2018): R$ 3,334 bilhões
-Prejuízo líquido (2018): R$ 989,3 milhões
-Patrimônio líquido (2018): R$ -2,35 bilhões
Principal atrativo
Contrato de concessão de 30 anos, com a distribuição de luz para um terço da população do Rio Grande do Sul (incluindo Porto Alegre, Região Metropolitana e Litoral).
Principal problema
Registra prejuízos financeiros, baixa capacidade de investimento e pode perder a concessão (direito de vender energia) se não superar as dificuldades.