Na segunda-feira, foi concluída a aquisição do controle da CPFL Energia, dona da RGE e da RGE Sul no Estado. A nova controladora, com 54,64% de participação, é a estatal chinesa State Grid, a maior empresa do setor elétrico e a segunda que mais fatura no mundo – US$ 320 bilhões, só atrás do Walmart.
A fatia adquirida pertencia à Camargo Corrêa e aos fundos de pensão Previ, Fundação Cesp, Sabesprev, Sistel e Petros. Com a compra, dois terços da distribuição de energia do Estado passam ao controle chinês. E conforme o presidente da CPFL, André Dorf, pode até aumentar.
Confira a entrevista completa abaixo:
O negócio está 100% concluído?
Sim, passamos por todas as aprovações regulatórias, no Cade e na Aneel. As ações foram transferidas, e o valor, pago aos vendedores dos 54%.
O que deve ocorrer com o restante das ações?
Os próprios sócios têm alguma parcela de ações fora do bloco de controle. Farão parte de uma oferta pública, que será lançada nas próximas semanas. Pela Lei das Sociedades Anônimas (SAs) e do Novo Mercado, o acionista que compra o controle tem de fazer estender aos acionistas minoritários o mesmo valor pago ao antigo controlador. Temos 30 dias para protocolar pedido de oferta pública na CVM.
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O que muda para os clientes gaúchos com o novo controle da empresa?
No curto prazo, nada muda. No longo, devemos esperar uma empresa mais eficiente, mais tecnológica. A State Grid é a segunda maior empresa do mundo em faturamento, atrás do Walmart, e a maior companhia de energia elétrica do planeta. Tem 1,7 milhão de funcionários no mundo. Além de China e Brasil, há negócios em Portugal, Austrália, Itália e Filipinas.
Havia uma imagem de que a China copiava processos. E não é mais assim. No setor elétrico, os chineses estão muito à frente. Usam muita tecnologia na gestão e na operação. O consumidor pode esperar, no médio prazo, uma empresa que usará tecnologia, mais preparada para novas necessidades.
A State Grid é 100% estatal? Só atua em distribuição?
Sim. É 100% estatal. Também atua com geração renovável e transmissão de energia.
Há expectativa sobre novos investimentos do grupo. Há mais apetite da companhia pelo Brasil?
Sinto que há apetite por crescimento com disciplina. A criação de valor não será feita a qualquer custo. A State Grid tem apetite por crescimento nos diversos segmentos do setor elétrico, mas com disciplina de uso de capital.
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Há alguma previsão para unificar empresas ou marcas?
Não. Ainda não temos indicação de que isso ocorrerá. A State Grid tem unidade no Rio de Janeiro que trata somente de transmissão. Transmissão não faz parte do plano estratégico da CPFL. A State Grid do Rio de Janeiro e a CPFL têm acionistas diferentes. Por enquanto, não há nenhum plano de que isso ocorrerá.
No Rio Grande do Sul, onde a empresa atua com a marca RGE, não há planos de mudança?
A empresa, por enquanto, seguirá atuando assim. Ainda não há indicação de mudança.
O antigo presidente da CPFL admitiu interesse na CEEE, em caso de privatização. Isso se mantém?
Caso o Estado decida privatizar a CEEE, teremos interesse em olhá-la. Vamos tentar ser competitivos.
Isso foi discutido com os novos acionistas?
Não, porque não há essa possibilidade no momento. Mas em todos os anos revisitamos o plano estratégico da companhia. A CEEE é ativo que faz sentido para a CPFL, se vier a ser oferecida ao mercado, pela sinergia, pelo conhecimento que temos do Estado. Isso tudo se reverte em benefícios para os acionistas e para o consumidor. O negócio de distribuição demanda muita escala. É intensivo em capital, operações, em gente. Quanto maior a escala, mais recursos para a companhia fazer frente às necessidades. Olharíamos para a CEEE, sim, mas não está sendo discutido, porque não é realidade.
Diante dos sinais de que a Eletrobras quer privatizar, a CPFL tem interesse?Obviamente, olharemos para qualquer processo de privatização envolvendo companhias com escala mínima de operação. Uma empresa será mais atrativa quanto mais próxima estiver dos nossos ativos atuais. Para a companhia, comprar algo isolado não faria muito sentido.
Há um foco da CPFL em energia sustentável?
Já atuamos nas duas gerações: convencional e renovável. Temos planos e interesse em ambas. Na geração convencional, não vejo a companhia investindo em novas usinas remotas, de maneira isolada. Dificilmente seremos acionistas minoritários. Nossa estratégia em geração convencional é buscar ativos em que possamos contribuir com gestão e participação nos processos decisórios e de operação. É com eles que conseguimos adicionar algum valor.
Na geração renovável, existe a rota de crescimento por aquisição. Os ativos são menores. Então, a chance de fazer alguma aquisição é maior. Além disso, há os projetos greenfield. Temos carteira grande de projetos para construção, principalmente eólica e solar. Mas isso depende de leilões e do equilíbrio de contratações nos próximos meses ou anos. O mercado está sobreofertado de energia. Não há necessidade de novas capacidades. Quando a necessidade reaparecer, estaremos preparados para isso.
Como a CPFL atua no mercado livre de contratação de energia?
Somos um dos principais players. Temos uma empresa chamada CPFL Brasil. É nossa comercializadora. Atuamos junto a clientes industriais e comerciais que desejam migrar e comprar energia no mercado livre.
Quanto esse mercado cresceu para a CPFL?
De 2015 para 2016, cresceu 40%. O segmento depende das tarifas e das regiões. A principal vantagem para o consumidor é a previsibilidade. Ele tem a chance de travar o preço por três, quatro, cinco anos, e não fica sujeito a variações do mercado regulado. O cliente industrial quer previsibilidade e ter o custo na mão.
Como é a adaptação cultural nas relação entre a CPFL e a State Grid?
A interação maior começa agora. Depois de anunciar o negócio, em julho do ano passado, contratamos uma consultoria especializada em etiqueta corporativa chinesa. Treinamos a diretoria e os líderes em relação à cultura deles. É muito diferente. Esse será o principal desafio, por conta das diferenças culturais. Isso se resolve com treinamentos, conhecimentos básicos e muita comunicação.