Anunciado no meio da tarde desta quarta-feira (10), o acordo para suavizar as regras já brandas de aposentadoria para policiais federais, policiais rodoviários federais e policiais legislativos desinflou até o entusiasmo do mercado financeiro. O índice da bolsa de valores, que chegou a encostrar nos 107 mil pontos, fechou ainda com alta de 1,23%, mas a 105,8 mil pontos. O dólar ignorou nuances e fechou com baixa de 1,4%, para R$ 3,7523, cotação mais baixa desde 28 de fevereiro.
No texto-base aprovado na comissão especial da Câmara dos Deputados, as categorias haviam ficado com idade mínima de 55 anos. Esse tratamento já especial não foi suficiente: por pressão do presidente Jair Bolsonaro foi construído um acordo para aumentar ainda mais a diferença em relação aos 65 anos dos "mortais comuns", levando o limite para 53 anos para homens e
52 anos para mulheres. A conta que a benesse espeta na Previdência ainda não foi informada, mas certamente encolherá a economia de R$ 1,16 trilhão prevista em 10 anos.
Se quiser manter a coerência, o ministro Paulo Guedes, que fez dura crítica ao relatório apresentado na comissão especial da Câmara dos Deputados, terá de bater à porta do chefe e repetir um discurso semelhante ao feito na época:
– Se sair só R$ 860 bilhões de cortes, o relator está dizendo o seguinte: abortamos a Nova Previdência e gostamos mesmo da velha Previdência. Cedemos ao lobby dos servidores públicos, que eram os privilegiados.
Caso avance da forma sinalizada nesta quarta-feira, até o início da noite, a reforma da Previdência será de fato um avanço, mas terá deixado pelo caminho boa parte da imagem de combate aos privilégios que cultivou, sem contar o buraco criado pela falta dos Estados e municípios no projeto. E como dizem dois de seus mais aguerridos defensores, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o economista Paulo Tafner, precisará de um remendo pouco mais adiante.