Influenciada pelos primeiros desdobramentos da corrida eleitoral, a turbulência no mercado de câmbio acende sinal de alerta tanto em setores exportadores quanto em segmentos importadores da economia gaúcha. Depois de passar por gangorra no início do segundo semestre, o dólar engatou alta e rompeu a barreira dos R$ 4 nesta semana. Com a elevação no nível de incertezas para as próximas sessões, empresários dispõem de menor previsibilidade no momento de compra ou venda de mercadorias no Exterior.
Nesta quarta-feira (22), a moeda americana subiu 0,46%, cotada a R$ 4,056. Foi o segundo dia consecutivo em que o dólar ficou acima dos R$ 4 no fechamento de uma sessão, renovando o maior nível desde fevereiro de 2016.
Antes de a divisa ultrapassar a barreira simbólica, o mercado viu a volatilidade ganhar força entre julho e o começo de agosto. A cotação do dólar abriu o mês passado no patamar de R$ 3,90. Entre as últimas sessões de julho e as primeiras de agosto, chegou a cair para R$ 3,70. Em seguida, passou a avançar novamente, alcançando o atual nível.
– Na indústria, costuma-se dizer que o ideal é ter uma taxa de câmbio justa e estável, nem tão alta nem tão baixa. Assim que houver menos nervosismo, esperamos que o dólar se estabilize – avalia o coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Cezar Luiz Müller.
Entre os segmentos importadores, não bastasse o dólar acima dos R$ 4, que eleva custos para compra de insumos, o aumento nas incertezas causado pela corrida eleitoral representa componente adicional de preocupação para os próximos meses, aponta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Alcides Debus. O dirigente lembra que entre os setores impactados pela turbulência está o de vestuário, cujas redes apostam na aquisição de mercadorias em países asiáticos.
– As marcas trabalham com mais ou menos um ano de antecedência, para dar tempo de comprar materiais e desenvolver produtos. Na entrada, costumam fazer uma parte do pagamento. As incertezas dificultam porque, se houvesse maior previsibilidade em relação à taxa de câmbio, o empresário poderia arriscar mais – resume Debus.
O presidente da CDL-POA afirma que, com a desvalorização do real, as redes de vestuário têm de optar por reduzir margens de lucro, na tentativa de evitar perda no número de vendas, ou por aumentar os preços, sob o risco de afastar o interesse de clientes.
– Provavelmente, muitos negócios deixarão de ser fechados nos próximos dias. A incerteza é muito grande e tem reflexos negativos. Em momentos assim, o empresário costuma aguardar antes de fazer novos acordos – sublinha Debus.
Em tese, o dólar mais próximo dos R$ 4 beneficia segmentos exportadores, como o calçadista, já que as receitas dos negócios fora do país são calculadas em moeda americana. Apesar disso, a instabilidade no mercado de câmbio também afeta o planejamento de empresários do setor, ressalta a economista Priscila Linck, da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), com sede em Novo Hamburgo. O Rio Grande do Sul é o maior exportador do segmento no país.
– Com as oscilações na taxa de câmbio, há maior dificuldade para negociar. O fechamento dos acordos depende de cada empresa. Parte das companhias prefere vender com a cotação do dia. Outras fecham acordos com o câmbio na data do embarque dos calçados – explica.
Conforme a entidade, 14% da produção do setor no país é destinada ao mercado externo. Priscila projeta que, apesar das incertezas, os embarques devem ganhar fôlego no segundo semestre devido à realização de feiras internacionais.
No acumulado dos primeiros sete meses do ano, o Estado enviou para fora do Brasil 15,3 milhões de pares, que geraram US$ 250,8 milhões. Os resultados correspondem a uma queda de 2,6% em volume e de 4% em receita frente a igual período de 2017.