Lideranças empresariais avaliam que a crise na Turquia deve ter impacto tímido sobre as exportações do Rio Grande do Sul. A relativa tranquilidade está relacionada ao fato de o país não figurar entre os principais parceiros do Estado. A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) informa que a Turquia responde por apenas 0,9% dos embarques gaúchos.
O que chama atenção no Estado são os possíveis efeitos indiretos da turbulência. O principal deles é registrado na taxa de câmbio. A recente desvalorização do real tende a encarecer a compra de insumos no Exterior. Ao mesmo tempo, pode beneficiar segmentos exportadores, que fecham grande volume de negócios em dólares.
— A crise gera a desvalorização de diversas moedas de mercados emergentes. Não afeta somente o real. Como o dólar fica em nível mais elevado de maneira global, os possíveis efeitos positivos no Rio Grande do Sul e no Brasil podem ser neutralizados — pondera o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein.
O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, afirma que o agronegócio gaúcho é estimulado pela alta nos preços, em dólares, de commodities no mercado internacional, mas lembra que parte considerável dos produtos já foi embarcada neste ano.
— A alta na taxa de câmbio também eleva custos de produção, já que insumos importados ficam mais caros. Apesar do avanço nos preços das commodities, o Rio Grande do Sul, nesta época do ano, forma mais custos do que exporta — resume o economista.
Assim como na indústria, a Turquia não está entre os principais parceiros do agronegócio gaúcho. Demonstra grande interesse apenas em negócios como a compra de gado vivo do Estado. No primeiro semestre de 2018, o Rio Grande do Sul embarcou 79,9 mil cabeças ao Exterior, alta de 234,2% em relação ao mesmo período de 2017 (23,9 mil). Todos os animais tiveram como destino o mercado turco, informa a Superintendência do Porto do Rio Grande.
Conforme o Sistema Farsul, o valor dos negócios entre janeiro e julho deste ano somou US$ 56,3 milhões, quantia superior aos US$ 35,5 milhões de todo o ano passado.
— O sucesso das operações em 2018 já está garantido. O valor de todo o ano passado já foi superado. Possíveis prejuízos nas vendas de gado vivo poderão ser sentidos somente a partir de 2019, a depender do quão duradoura será a crise na Turquia — projeta Luz.