Depois de passar a barreira dos R$ 3,90 nas negociações ao longo do dia, na segunda-feira, o dólar se acalmou no Brasil e fechou com baixa de 0,78%, para R$ 3,867 nesta terça-feira (14). O alívio, reforçado por alta de 1,43% na bolsa, veio com redução da pressão na Turquia. Mas nem o Ibovespa nem o câmbio voltaram aos níveis anteriores à onda de turbulência.
O desequilíbrio que levou ao tremor turco não está resolvido. O governo de Recep Erdogan adotou medidas paliativas, que passam longe de representar solução estrutural. Isso significa que o risco pode voltar a subir, arrastando consigo mercados financeiros de países emergentes como o Brasil.
A inquietação com as fragilidades dos emergentes se intensificou desde que ficou claro que os juros nos Estados Unidos caminham para a normalização. Com taxas muito abaixo do habitual, ainda por conta da lenta saída da crise de 2008, o país que imprime dólares havia se tornado um polo negativo de atração de investimento financeiro por não oferecer remuneração apetitosa, apesar do baixo risco. Isso abriu espaço para busca de maior rendimento, mesmo com incerteza.
Esse cenário desapareceu depois dos sinais de que os títulos do Tesouro americano voltarão a render como no passado. Todas as pressões sobre emergentes ocorreram desde que isso ficou claro para os investidores. Foi o que levou a Argentina à crise cambial que redundou na adoção do maior juro básico do mundo e na volta ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi também o que testou a resistência de Erdogan a elevar o juro básico na Turquia. Quando a Argentina “caiu”, havia sinalização de que o próximo alvo seria a Turquia.
Agora, o Brasil precisa dar sinais de que não permitirá se tornar a próxima “bola da vez”. Tem diferenças significativas em relação ao país de Erdogan. A primeira é a dívida externa. Enquanto lá chega a 50% do PIB, aqui mal passa de 7%. Outra é o volume de reservas cambiais (US$ 380 bilhões, quase quatro vezes o mantido pela Turquia, de US$ 100 bilhões). O maior fator de risco do Brasil é a trajetória da dívida pública. Embora quase toda em reais, disparou, em quatro anos, de confortáveis 50% para 75% do PIB. Crédito é mais caro para quem deve muito.