O derretimento da lira turca afetou bolsa e câmbio no Brasil em semana já pouco animadora no mercado financeiro. A queda do Ibovespa chegou a passar de 3% na sexta-feira, mas fechou em 2,86%, pior desempenho desde 28 de maio. O dólar subiu para R$ 3,864, Depois da Argentina, em maio, a Turquia é o segundo emergente a mergulhar em espiral de crise financeira neste ano.
Não significa que o Brasil seja a próxima peça de dominó a cair, mas é um sinal de alerta. Entre as causas do avanço da crise na Turquia, estão aumento de custos de financiamento, dívida alta em dólar, ceticismo sobre a política econômica, interferência na política monetária e inflação descontrolada. O Brasil só escapa das duas últimas.
– Quando isso ocorre com um país parecido com o Brasil, contagia mesmo que investidores saibam que são diferentes. Há tendência de reduzir risco de carteiras, e alguns investidores são obrigados a fazer isso, porque as regras determinam – explica Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.
A economista pondera que o ambiente externo perigoso é um alerta de quanto o Brasil precisa cuidar de sua política econômica:
– Não tem mais espaço para gracinhas, é preciso fazer as principais reformas. senão o Brasil também fica vulnerável.
Zeina lembra, ainda, que esse tipo de volatilidade não afeta apenas o mercado financeiro. Também assusta empresas, diz:
– Se o Brasil tivesse contas públicas arrumadas, a contaminação seria muito menor.
Apesar das escorregadas em temas econômicos dos candidatos à Presidência no primeiro debate da campanha eleitoral, Zeina avalia que o cenário não é tão absurdo quanto o de 2014, quando havia interdição de debate sobre a crise:
– Hoje os candidatos mais competitivos não ousam negar a necessidade de reforma da Previdência. Os candidatos modulam o discurso, dependendo do interlocutor, mas não há a negação absurda de 2014.
Nesse cenário, a economista vê o reajuste salarial do STF como “derrota na batalha” pelo ajuste nas contas que “não vai sair barato” para a imagem da corte.