O pânico e a alta volatilidade ditaram o ritmo do mercado financeiro no Brasil nesta quinta-feira (7). Reflexo do coquetel de incertezas internas e externas que afeta o país, o dólar comercial chegou mais perto dos R$ 4 – a moeda americana, que roçou os R$ 3,96, fechou a R$ 3,925, alta de 2,27%.
Outro sinal de estresse veio da bolsa. Referência, o índice Ibovespa chegou a cair 6,5% no início da tarde, mas conseguiu recuperação parcial e encerrou a sessão com retração de 3%.
Indicador que ganha maior atenção dos analistas nos últimos dias e refletiu o pessimismo reinante, os juros futuros também subiram forte, reforçando as apostas de que o Banco Central (BC) pode até elevar o juro na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 19 e 20 de junho. O nervosismo levou o presidente do BC, Ilan Goldfajn, a convocar entrevista no início da noite para reafirmar que não vai usar aumento de juro para conter o dólar.
Utilizar a Selic, ressaltou, apenas no caso de reflexo do câmbio na inflação. Por enquanto, está mantida a estratégia de lançar mão dos chamados swap cambiais, equivalente à venda da moeda no mercado futuro.
Sem nenhum fato relevante ao longo do dia, o detonador da forte movimentação dos preços pode ter sido uma pesquisa divulgada pela XP Investimentos. Os gestores financeiros ouvidos esperam, majoritariamente, um segundo turno das eleições presidenciais entre Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL), dois nomes considerados estatizantes e contrários a reformas, como a da Previdência.
A conclusão serviu como espécie de caída de ficha coletiva para o mercado de que um candidato publicamente compromissado com a responsabilidade fiscal tem poucas chances, avalia o economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo.
— O mercado estava muito comprado em um cenário, que jamais acreditei, de vitória de um reformista — diz o especialista, que classifica a volatilidade desta quinta muito mais como pânico do que um ataque especulativo, movimento conjunto observado nas últimas semanas em outros emergentes com finanças comprometidas, como Turquia e Argentina.
Aumento de juro nos Estados Unidos, fragilidade fiscal do país, governo incapaz de resolver um problema sem criar outro – como mostrou a greve dos caminhoneiros – e os ponteiros das pesquisas eleitorais gerando desconfiança nos agentes do mercado se somam para deteriorar expectativas e alimentar o mau humor nas últimas semanas, enumera João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper.
— Pelos olhos do mercado, a baixa perspectiva de reformas, a situação fiscal ruim, e um governo perdido e sem pulso geram um cenário de incerteza brutal, parecendo que tudo está perdido — diz Mascolo, lembrando ainda o peso do movimento de alta dos juros nos EUA como fator de contaminação exógeno.
Para o professor do Insper, já que o atual governo não tem credibilidade para sinalizar algo que acalme o mercado, a iniciativa deveria partir de quem tem mais chances de ocupar o Planalto a partir de 2019. Espírito Santo afirma que, considerando-se apenas os fundamentos econômicos, há excesso na aproximação do dólar ao patamar de R$ 4. Mesmo assim, a continuidade do estresse faz projetar o teto da moeda americana um exercício arriscado:
— Creio que esta alta do dólar já é exagerada. Mas, para saber até que patamar pode ir, é preciso esperar para ver até quando o pânico vai se prolongar.
Diante da turbulência, BC e Tesouro fizeram uma intervenção conjunta para acalmar os mercados de juro e dólar, ofertando títulos públicos e swaps cambiais. Mesmo assim, ambos subiram.
A desconfiança remete à última reunião do Copom, quando o colegiado decidiu manter a Selic em 6,5% ao ano, poucos dias depois de Goldfajn sinalizar nova queda de 0,25 ponto percentual – episódio que deflagrou a onda de pessimismo, depois potencializada pela crise dos combustíveis.
Por enquanto, membros do BC insistem que não há necessidade de começar a subir o juro. Essa, no entanto, foi uma das medidas adotadas por Argentina e Turquia, após forte desvalorização de suas moedas frente ao dólar. O arsenal brasileiro, porém, ainda tem as reservas cambiais, até agora intocadas, de quase US$ 400 bilhões.