A recente disparada na cotação do dólar, que seguiu acima dos R$ 3,80 nesta quarta-feira (6), tem pelo menos dois ingredientes. De um lado, a área política, que segue cercada por incertezas eleitorais. Do outro, o cenário externo, que até o fim de 2017 não preocupava, mas hoje apresenta horizonte adverso para mercados emergentes como o Brasil. Com isso, a elevação acumulada pela moeda americana chegou a 16% neste ano.
A exemplo do que havia ocorrido na véspera, o dólar operou em alta durante a sessão desta quarta-feira. Ao final do dia, o avanço foi de 0,74%, o que levou a moeda americana para a marca de R$ 3,838, a maior desde março de 2016.
Nem mesmo a intervenção do Banco Central (BC) conseguiu atenuar os ânimos de investidores. Durante a sessão, a instituição aumentou a oferta de swaps cambiais. Esses contratos equivalem à venda de dólares no mercado futuro e buscam dar maior proteção contra variações acentuadas.
— O país tem incertezas eleitorais e um grave problema fiscal. Além disso, o ambiente global está conturbado. É natural que o sentimento fique mais negativo no mercado — sintetiza o economista-chefe da gestora Quantitas, Ivo Chermont.
Parte das incertezas políticas que respingam no câmbio está relacionada ao temor entre analistas financeiros de que um eventual nome contrário a reformas ganhe velocidade na corrida presidencial. Segundo economistas, o receio foi acentuado nos últimos dias com a paralisação dos caminhoneiros, que forçou o governo federal a prometer benefícios à categoria.
— Em meio à greve, houve pré-candidatos à Presidência que passaram a criticar reformas como a do teto dos gastos públicos. Parte da sociedade também apoia essa ideia. O resultado é o mau humor no mercado — avalia Chermont.
No cenário externo, a turbulência aumentou recentemente com a leitura de que os Estados Unidos subirão o juro em velocidade mais rápida do que a prevista. Caso a projeção seja confirmada, o mercado americano se tornará ainda mais atraente a investimentos hoje aplicados em países emergentes, onde os riscos são maiores, como o Brasil.
Não seria nada surreal se o dólar chegasse aos R$ 4.
IVO CHERMONT
Economista-chefe da Quantitas
— Isso eleva a pressão no mundo. Com o juro mais alto nos Estados Unidos e em nível baixo no Brasil, os ganhos de investidores ficam menores aqui. O resultado é a saída de capital estrangeiro — frisa o economista-chefe da agência Austin Rating, Alex Agostini.
Analistas consultados pelo BC estimam que o dólar terminará o ano em R$ 3,50, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pela instituição na última segunda-feira (4). No início de janeiro, a projeção para o fim de 2018 era menor, de R$ 3,34. No curto prazo, devido às dificuldades que o país atravessa, economistas não descartam que a cotação da moeda americana alcance os R$ 4.
— Essa marca fica ali na esquina. Não seria nada surreal se o dólar chegasse aos R$ 4 — salienta Chermont.
Um dos setores que sentem os impactos da variação no câmbio é o industrial. O presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cezar Luiz Müller, lembra que a moeda americana mais alta tende a beneficiar segmentos exportadores, como o calçadista. No sentido contrário, eleva os custos de empresas que importam grande quantidade de insumos, completa o dirigente.