A combinação entre desvalorização do peso mexicano e um indicador de forte atividade no setor de serviços nos Estados Unidos pressionou o dólar no Brasil e gerou uma terça-feira (5) de tensão no mercado cambial. No final da manhã, a cotação do dólar superou os R$ 3,80. O Banco Central interveio fazendo leilões de swaps cambiais, tipo de contrato que oferece proteção contra a variação cambial. A pressão diminuiu ao longo do dia, mas voltou com força no final da tarde, com a moeda americana fechando em R$ 3,81, alta de 1,77% em relação ao dia anterior.
Essa barreira psicológica não era quebrada há mais de dois anos, desde março de 2016, quando havia tensão pré-impeachment. Fontes do mercado indicam que a combinação de dados fez disparar mecanismos conhecidos como "stop loss" entre investidores – aquele ponto a partir do qual não se aceitam mais perdas. Conforme analistas, o comportamento dos investidores sugeria que a expectativa era de que o BC oferecesse dólares físicos – ou seja, com redução das reservas internacionais –, não apenas os contratos de swap, que são liquidados em reais, sem impacto para a muralha de US$ 380 bilhões que o BC tem para conter especulação.
Outros analistas também apontaram a entrevista do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, em que afirmou não haver "espaço fiscal para subsídio para gasolina" como fator que agrava o movimento de alta do dólar. Nesse caso, a alta da cotação embute uma profecia autorrealizável: diante da falta de saída para o preço da gasolina, o dólar sobe, o que aumenta o preço do combustível na atual política de preços da Petrobras.
No cenário de fundo, está a mudança de humor global em relação a países emergentes desde que a associação entre sinais de crescimento maior do que o previsto na economia americana e o aumento da inflação, lá também provocado pela disparada no preço dos combustíveis, provocou a percepção de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) terá de elevar a taxa de juro básico acima do esperado. Isso já fez subir a remuneração dos títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries. Assim, o investidor global encontra maior remuneração em moeda forte e ambiente seguro, desmontando posições em países que até agora pagavam mais juro, mas com maior risco.