Em dia de muitos adjetivos e poucos fatos, a bolsa chegou a mergulhar mais de 6%, para fechar em queda até moderada, de 2,98%, enquanto o dólar arranhou os R$ 4 nesta quinta-feira (7). Tudo sem motivo claro e aparente. Até analistas que costumam encontrar razões para altos e baixos abruptos, jogaram a toalha:
– Está uma loucura. Não há explicação racional para ambiente tão irracional – capitulou o habitualmente sereno Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica ING.
“Pânico” foi a palavra mais usada para descrever a sensação de investidores, mas encontrar sua causa não foi fácil. Não foi tomada decisão importante, nenhum indicador mudou humores. O quadro favoreceu a tese de especulação. Depois que o mercado forçou Argentina e Turquia a subir juro, começou a pressão sobre o Brasil, interpretou ao menos um operador. Chegou a circular a versão de que o Banco Central elevaria a taxa básica em 0,75 ponto percentual na próxima reunião, dias 19 e 20 de junho.
– A ideia seria um choque de juro para conter o câmbio, mas não faz sentido elevar taxa com a atividade fraca e inflação ainda baixa – ponderou Rosa.
O que há, então, é uma queda de braço entre especuladores, Banco Central e Tesouro Nacional. André Perfeito, economista da corretora Spinelli, confirma que há uma “disputa de preço”:
– Quando se tenta segurar preços de mercado, é uma briga bastante difícil. O BC faz seu trabalho. Está tentando comprar credibilidade, tempo, mas sai caro.
Newton Rosa lembra que o BC saiu “relativamente fragilizado” ainda quando freou o corte no juro esperado em 17 de maio.
– O BC fez uma ligação entre a política monetária e a taxa de câmbio que agora diz não relacionar, mas o mercado começou testar.
Um governo federal esfacelado facilita o teste aos limites das autoridades. Apesar de relativizarem o estresse, economistas advertem que o cenário ficou muito nublado:
– Não dá para ver nada à frente. Qualquer tentativa de prognóstico é inútil. Amanhã ou logo mais vamos ver mais do mesmo – observa Newton Rosa.