Depois de expressar preocupação de forma discreta, empresários resolveram escancarar o impacto nos custos provocado pela tabela de preço mínimo de fretes. Em tom inusual, a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) enviou carta ontem ao governo federal afirmando que “o setor industrial está na iminência de paralisar a produção” caso a decisão não seja revista. Conforme Cézar Muller, presidente em exercício da entidade, não é força de expressão.
Com reajustes no frete que chegam a 150% do preço anterior à greve dos caminhoneiros, abriu-se um impasse. Há um entendimento, explica Muller, que as empresas que contratam o frete estão sujeitas a multas pesadíssimas caso não obedeçam aos valores previstos. Diante disso, não contratam. Sem transporte, a produção se acumula nos estoques. Com excesso de mercadoria parada, a única alternativa seria parar as máquinas, se não houver solução.
Para complicar, o Planalto mandou sinais contraditórios. Enquanto o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, falou em “ajustes na tabela”, o da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que não haverá alteração. Não por acaso, a carta da Fiergs é dirigida a Padilha. Diante de pronunciamento de teor muito semelhante feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a coluna quis saber se havia uma combinação das entidades do setor para pressionar o Planalto. Muller desconversou.
Os industriais podem ter detectado a sensibilidade do Planalto a pressões nesse momento conturbado, mas o fato é que os relatos de aumento de preço são impressionantes. O maior impacto, detalha Muller, ocorre nas cargas em que a mercadoria tem preços mais baixos, caso da farinha de trigo, por exemplo. Se o frete dobra de valor, vai pagar no preço do pãozinho. Exportadores também enfrentam o risco de multa se não cumprirem o prazo de entrega.
– Estamos diante de um impasse. A saída é negociar, sentar à mesa e estabelecer acordo entre as partes. O Brasil não está num momento que possa reduzir o nível de atividade – afirma o empresário.