O pedido de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) feito pelo presidente da Argentina, Mauricio Macri, foi apresentado como "preventivo" pelo ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne. O objetivo é enfrentar a crise cambial acentuada na semana passada, mas a medida tem potencial para respingar no Brasil. Se já havia temor de contágio sem a intervenção emblemática do FMI, deve se acentuar. Conforme o Clarín, o pedido de Macri pode chegar a US$ 30 bilhões. Ainda não há confirmação oficial do governo argentino sobre o valor.
O mais recente acordo do Brasil com o FMI ocorreu em 1999, com ajuda de US$ 41,5 bilhões. Atualizado pela inflação em dólares, esse valor corresponderia hoje a cerca de US$ 60 bilhões. Considerando que o PIB da Argentina é três vezes menor do que o Brasil, é possível avaliar o tamanho da encrenca hermana.
O socorro pegou o mercado de surpresa. Pedido de resgaste ao FMI costuma ser o último recurso de governantes em perigo. No caso de Macri, pode inclusive custar o sonho já roteirizado de reeleição. Como a situação na Argentina se deteriorou em poucos dias, a expectativa era de que o governo tentaria domar o dólar sozinho.
Atento à situação por representar um setor que tem na Argentina seu principal cliente no Exterior, o presidente da Abicalçados, Heitor Klein, também manifestou surpresa:
— Foram logo para a cirurgia. Talvez Macri tenha pensado em fazer o que seria inevitável em 30 ou 60 dias, e tenha buscado um valor que dê um susto no mercado.
Além das consequências diretas nos setores mais dependentes das compras argentinas, como calçados, alimentos e máquinas agrícolas, o Brasil será afetado pela medida argentina do ponto de vista da percepção de risco dos investidores. Embora tenham economias diferentes, Brasil e Argentina são sócios no Mercosul e integraram o setor automotivo.
— Vai sobrar troco para nós, até porque dependemos muito um do outro e a situação do Brasil é mais difícil. Chile e Colômbia, por exemplo, devem sofrer menos.
A barreira entre o Brasil e o cenário dos anos 1980, quando vários países latino-americanos enfrentaram crise de dívida é o tamanho das reservas internacionais do Brasil. O Banco Central bancou, contra a pressão do governo Temer — que queria usar parte do recursos para conter a recessão —, US$ 380 bilhões nos cofres. Agora,Planalto deve ter entendido o motivo.