O melhor mês em vendas na indústria automobilística desde dezembro de 2015 foi turbinado pela Argentina, imersa em um início de crise cambial. As exportações tiveram um papel importante na elevação de 38,5% em abril, na comparação com igual mês do ano anterior. Foi a segunda melhor marca histórica do segmento, em todos os tempos. Do total de veículos vendidos no período, 33,6% tiveram compradores no Exterior. Dessa fatia, ao menos 70% foi embarcada para a Argentina, conforme a Anfavea, que reúne as montadoras que atuam no Brasil.
Presidente da entidade, Antonio Megale observou, ao anunciar os números, que ainda não há cancelamento de embarques, mas admitiu preocupação com o impacto do juro no setor. Uma das medidas adotadas pelo governo Macri para tentar vencer a crise cambial foi a elevação do juro básico para 40% ao ano.
Assim, a compra de carro, muito dependente de financiamento, tende a ficar mais cara. O custo maior pode frear negócios. A origem da dependência da Argentina na exportação é o acordo automotivo entre os dois países, que reduz imposto de importação.
Foi um dos escassos êxitos empresariais do Mercosul, que deveria ter integrado outras cadeias produtivas. Em vez disso, ficou restrita a esse segmento. Conectou dois fortes polos de produção na América do Sul, mas contribuiu para a reforçar risco de contágio, nos dois sentidos.
Havia expectativa de que as duras medidas de Macri – além da puxada no juro, foi anunciado corte de 30 bilhões de pesos (US$ 1,35 bilhão) – segurassem a cotação. O dólar até abriu com leve recuo, mas fechou o dia com leve avanço em relação a sexta-feira. Macri compareceu à reunião semanal da equipe econômica para medir o êxito até agora e projetar riscos. O Brasil, tenso, acompanha.