A turbulência no mercado financeiro, que levou o dólar a fechar acima dos R$ 4 pela primeira vez após dois anos e meio, tem o cenário eleitoral como pano de fundo. Em resumo, o nervosismo resulta da frustração dos investidores com as informações trazidas pelas primeiras pesquisas de intenção de voto. Vale lembrar que o mercado vê com bons olhos propostas de candidatos em defesa da agenda de reformas no país.
Ao final da sessão desta terça-feira (21), o dólar teve alta de 2%, cotado a R$ 4,03. A bolsa de valores de São Paulo teve baixa de 1,5%, aos 75.180 pontos. A última vez com a moeda americana acima dos R$ 4 no fechamento de uma sessão havia ocorrido em 29 de fevereiro de 2016, período pré-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ou seja, à época, as incertezas de Brasília também respingavam no mercado financeiro.
– O momento é de muito estresse e pouco racional. Os investidores estão comprando dólar e vendendo ações na bolsa como se não houvesse amanhã. A indefinição nas eleições é completa, mas a campanha mal começou – pondera o economista Alexandre Espirito Santo, da plataforma de investimentos Órama.
A turbulência no mercado de câmbio vem ganhando força ao longo do segundo semestre. No começo de julho, o dólar estava no patamar de R$ 3,90, caiu em seguida para o nível de R$ 3,70 e voltou a subir, até romper agora os R$ 4. Antes da divulgação das primeiras pesquisas eleitorais, o humor dos investidores havia sido influenciado, em grande parte, por fatores externos, como os possíveis impactos de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China e a crise na Turquia.
Diante do horizonte recheado de dúvidas, analistas evitam cravar um cenário para as próximas sessões. Apresentada na segunda-feira, a edição mais recente do boletim Focus, do Banco Central (BC), projeta que o dólar fechará 2018 em R$ 3,70.
Em ano eleitoral, as incertezas não ficam restritas ao mercado financeiro. Os pontos de interrogação também tendem a represar investimentos de empresas. Com menos aportes, a retomada da economia, que já vem sendo lenta, pode perder ainda mais velocidade. A estimativa do mercado é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 1,49% em 2018, aponta o Focus. No início do ano, cogitava-se avanço de cerca de 3%.