A economia brasileira seguiu a passos lentos, no segundo trimestre, na sua tentativa de deixar no retrovisor os efeitos da recessão. Entre abril e junho, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou relativa estabilidade, com alta de 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta sexta-feira (31). O leve avanço, que abrange o período da freada nos negócios causada pela greve dos caminhoneiros, foi o sexto em sequência no país.
– O que o país está crescendo está longe do que havia despencado nos últimos anos. Esta é uma crise marcada pelas dificuldades para retomada – avalia a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.
O leve avanço teve relação com o desempenho do setor de serviços (responsável por cerca de 70% do PIB), que subiu 0,3% no período. Enquanto isso, houve estabilidade na agropecuária (0%) e queda de 0,6% na indústria, o segmento mais abalado pela paralisação dos motoristas, ocorrida em maio.
– É importante analisar toda a trajetória dos últimos meses, e não apenas o intervalo da greve. Desde o começo do ano, a indústria vem desacelerando. Isso mostra que a recuperação não é apenas lenta. Também é descontínua – acrescenta o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.
Os investimentos realizados por empresas para aumento de produção ficaram no vermelho entre abril e junho, na comparação com o primeiro trimestre. A queda nesse indicador, conhecido como formação bruta de capital fixo (FBCF), foi de 1,8%. O resultado interrompeu a sequência de quatro elevações. Em relação ao segundo trimestre de 2017, houve alta de 3,7% nos investimentos, a terceira em sequência.
– A greve teve impacto forte e assustou analistas de mercado. Mas a maior parte dos efeitos foi temporal – pondera a pesquisadora Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Conforme o IBGE, o consumo das famílias apresentou relativa estabilidade no segundo trimestre, com leve avanço de 0,1% ante o intervalo de janeiro a março. A alta foi a sexta seguida.
Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o crescimento foi mais robusto, de 1,7% – o quinto consecutivo. O IBGE afirma que o resultado positivo pode ser explicado pela melhora em indicadores de crédito e pelas taxas de inflação e de juro mais baixas.
No setor externo, as exportações caíram 5,5% frente ao primeiro trimestre. As importações também apresentaram recuo, de 2,1%.
– Durante a greve, a cadeia produtiva parou, e as famílias não consumiram tanto. Foram efeitos pontuais, mas que afetaram praticamente todos os componentes do PIB – frisa o gerente de análise econômica do Sicredi, Pedro Ramos.
Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o crescimento da economia nacional foi de 1%, o sexto consecutivo nessa base de avaliação. A alta acumulada pelo PIB chegou a 1,1% no primeiro semestre e a 1,4% em 12 meses. Em valores correntes, o indicador alcançou a R$ 1,693 trilhão.
O IBGE ainda confirmou a revisão no avanço do PIB entre janeiro e março, em relação aos três meses imediatamente anteriores. O crescimento passou de 0,4% para 0,1%.
– A revisão no desempenho dos meses anteriores decepcionou. O que já era fraco ficou ainda mais fraco – salienta a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.