Para quem tem no radar o pulso da economia, o anúncio de fim da recessão feito ontem pelo Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos (Codace) não surpreende. O que foi inesperado foi o ponto de corte da recessão, estipulado no final de 2016. Vários integrantes do comitê, chamados a avaliar o resultado do PIB do primeiro trimestre, com alta de 1%, haviam afirmado que ainda não havia sinais suficientes de reativação. Em entrevista, o economista Paulo Picchetti, um dos integrantes do Codace, explica os motivos da mudança de opinião.
Em um país dominado por antípodas políticos e mentais, anunciar que a recessão terminou pode soar como "seus problemas terminaram". Basta ler a entrevista com atenção para verificar que não é o caso. O fim da recessão é só a conclusão de um ciclo de variação no nível generalizado de atividade. Quando tudo aponta para baixo marca-se o início, quando tudo começa a apontar para cima, define-se o final. Na "regra de bolso", a recessão no Brasil só teria começado em julho de 2015, quando acumulou dois trimestres de queda do PIB. Para o Codace, foi em abril de 2014.
Mas se a recessão terminou, porque a crise não vai junto? Entre o fundo do poço e o topo da atividade, há um longo caminho a percorrer. Não só porque o Brasil acumula perda de 8,6% no PIB – a mais alta da série acompanhada pelo Codace. Seria preciso crescer o equivalente apenas para voltar à situação anterior, que ainda embutia uma grande quantidade de obstáculos.
Também porque, se terminou a fase de incerteza aguda, que envolvia até quem comandaria o país até a eleição de 2018, estamos longe de ter todas as dúvidas resolvidas. O ajuste fiscal foi interrompido pelo escândalo da JBS. Para resistir a duas denúncias, o Planalto adotou medidas que representaram custos para os cofres públicos.
Se a redução na taxa básica de juro foi um elemento importante na trajetória que trouxe a economia até aqui, está quase se esgotando, como ficou claro no comunicado do Banco Central – que será reforçado hoje com a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A recessão terminou, ainda bem. Mas nossos problemas como país estão longe do fim. Tem muito trabalho pela frente.