O primeiro crescimento da economia depois de dois anos completos – também conhecidos como oito trimestres – de encolhimento ou queda livre abre a interrogação acima. A crise terminou, uma vez que o resultado do PIB foi um significativo avanço de 1% em relação ao quarto trimestre de 2016? Tecnicamente, sim. Nessa abordagem mais simples, basta um desempenho positivo para interromper o período de baixa. Mas economistas ponderam que esse seria um "conceito de bolso", no sentido de ser de fácil compreensão, enquanto a realidade é um pouco mais complexa.
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Mesmo antes do fatídico 17 de maio, quando foi revelada a delação da JBS, jogando política e economia brasileiras de volta ao túnel sem luz no final, economistas já advertiam que o primeiro trimestre seria o melhor de 2017. Ou seja, não esperam a repetição desse resultado nos próximos meses. A aposta dominante é de que o período de janeiro a março tenha sido mais uma pausa, uma trégua na recessão. O mais provável é de que o segundo trimestre volte a apresentar redução na atividade, contaminada até pelos baixos números de abril, primeiro mês do período, que teve menos dias úteis por ter concentrado o efeito de três feriadões, na prática.
Um dos motivos do ceticismo sobre a duração da virada no sinal é sua própria origem: tanto o fato de ser positivo quanto o tamanho da alta está muito relacionado à safra agrícola. Como se sabe, é um efeito de duração determinada, que não se repetirá, nessa intensidade, no próximo trimestre. Outro é o fato de que o maior vetor de crescimento, o investimento, ainda estar no vermelho, tanto na comparação com o período imediatamente anterior quanto com o mesmo do ano passado.
É curioso observar que o resultado do trimestre anterior – de outubro a dezembro de 2016 –, ao contrário do que se esperava, contaminou menos do que se temia o avanço seguinte. Portanto, é bom olhar com cautela também o possível "carregamento positivo" desse período positivo. Mas os brasileiros merecem, ao menos, festejar essa trégua.