A Comil demitiu cerca de 850 funcionários em Erechim na quinta-feira. A empresa fabrica ônibus e tinha 1,8 mil trabalhadores na unidade. As informações são da Rádio Gaúcha.
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Erechim, Fábio Adamczuk, na última segunda-feira, em uma reunião entre a entidade e a Comil, a empresa anunciou que pretendia demitir 850 funcionários, cerca de 50% do quadro funcional. De acordo com Adamczuk, a Comil se dispôs a negociar um acordo com os trabalhadores para diminuir o impacto social da medida no município.
– Debatemos uma série de requisitos para diminuir o impacto das demissões na vida dos moradores da região, como, por exemplo, não demitir pessoas da mesma família e desligar funcionários que recebem aposentadoria – explicou.
Leia mais
Produção industrial sobe 0,1% em julho, aponta IBGE
Desemprego, violência, corrupção e saúde: os desafios do governo Temer
Desemprego sobe para 11,6% e atinge 11,8 milhões de brasileiros, aponta IBGE
De terça a quarta, a Comil não operou e colocou seus trabalhadores em licença remunerada.
Adamczuk disse que a Comil concordou em debater os pontos do acordo com os colaboradores em uma assembleia na quinta-feira, organizada pelo sindicato, em frente à sede da empresa, mas na data a Comil apenas promoveu as demissões:
– Eles dividiram os funcionários em dois grupos e disseram: "vocês estão demitidos, e vocês permanecem na empresa". Não houve conversa. Eles simularam uma negociação para argumentar que não oferecemos propostas – disse.
O sindicato enviou um ofício denunciando a prática ao Ministério Público do Trabalho (MPT) de Passo Fundo. Na manhã de segunda-feira, Adamczuk vai se reunir com representantes do MPT para definir o futuro dos trabalhadores demitidos. Dependendo do resultado, poderá ocorrer uma nova assembleia na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Erechim.
A Comil divulgou nota dizendo que um processo de adequação da estrutura para a "nova realidade do mercado". A produção seria retomada nesta sexta-feira, mas em turno reduzido.
Em três anos, as vendas de ônibus caíram mais de 60%. Além disso, houve aumento de custos, restrição de crédito e discussão de pagamento de veículos entregues ao Governo Federal.
Em janeiro, a empresa tinha fechado uma fábrica em São Paulo.
Leia o comunicado oficial da empresa
"A Comil Ônibus informa que, a partir de hoje, 1º de setembro, inicia o processo de adequação de sua estrutura e consequente redução do quadro de funcionários de modo a ajustar suas atividades à nova realidade de mercado. Tal medida é resultado da grave crise que o Brasil está enfrentando, com grande impacto no mercado de ônibus, que teve uma queda de mais de 60% nos últimos três anos.
Outros fatores estão impactando de forma relevante as atividades: forte inflação de matéria prima; restrição de linhas de crédito para os clientes; a valorização do real frente ao dólar neste ano, impactando diretamente na competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo. Somados a esta conjuntura econômica, há ainda os veículos do Programa “Crack é Possível Vencer”, equipados com alta tecnologia para o monitoramento avançado, que já foram entregues, mas o Governo Federal ainda discute o pagamento.
Desde que a crise se intensificou, a partir de 2014, a empresa adotou diversas medidas para se ajustar ao mercado buscando a manutenção do maior número de empregos: readequou sua estrutura, promoveu redução de custos, buscou eficiência na produção e na gestão, concentrou toda a produção na unidade de Erechim, internalizou a fabricação de peças e componentes e atualizou sua linha de produtos rodoviários. Infelizmente, estas ações não foram suficientes.
A empresa lamenta se somar a outras empresas que, diante deste cenário, também realizaram demissões, mas como não há condições de se manter o atual efetivo de pessoal, oficializou a reestruturação. Já na próxima semana, a empresa iniciará um trabalho de suporte na recolocação para todos aqueles que desejarem.
Há mais de 30 anos no mercado, a Comil reforça seu compromisso com seus clientes, funcionários, fornecedores e parceiros também neste momento em que busca se reestruturar para enfrentar essa nova realidade.
A Companhia, desde já, expressa o infinito agradecimento pela dedicação de seus colaboradores, e apoio da comunidade local".
*Rádio Gaúcha