Em meio à recente crise de cooperativas gaúchas, o setor tem buscado estratégias para se fortalecer dentro e fora do Estado. Com foco na profissionalização da gestão e da governança, uma delas foi lançada no terceiro e último Campo em Debate, durante a 24ª Expodireto Cotrijal, nesta quinta-feira (7). É a instância estadual do Programa Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas (PDGC), organizado pelo Secoop.
A ideia do lançamento da versão gaúcha do programa, que terá inscrições abertas a partir do dia 1º de abril, é ampliar a adesão das cooperativas, explica Mario De Conto, superintendente do Sescoop/RS:
— Para que as cooperativas vejam valor nas soluções que nós colocamos para elas. E também para que nós possamos reconhecer os esforços das cooperativas em evoluir na sua governança e na sua gestão.
O programa é uma iniciativa nacional que o Sescoop criou há 10 anos. Nele, é feito um diagnóstico de cada cooperativa, em que é possível medir o grau de profissionalização de gestão e da governança, a partir de índices, por meio dos quais a cooperativa é rankeada. Ao final, são propostas soluções e é informado o recurso que o sistema pode apoiar no desenvolvimento dessas soluções.
— Nós vamos até a cooperativa, dizemos que identificamos tal necessidade, que temos tal solução e que temos tal recurso para apoiar. Os presidentes, geralmente, nos dizem: "onde a gente assina?" — brinca De Conto.
Mas para que a iniciativa dê certo, é preciso, na avaliação do presidente do Sistema Ocergs/Sescoop-RS, Darci Pedro Hartmann, trabalhar o processo de convencimento dos cooperados. A ideia é começar já na Feira Nacional da Soja (Fenasoja), marcada para ocorrer entre os dias 17 e 26 de maio, em Santa Rosa.
— Temos R$ 300 milhões para fazermos investimentos nos próximos quatro anos para podermos alcançar excelência de gestão e profissionalização — emenda o dirigente.
Foi o que ocorreu com a Cotrijal. Após a incorporação da Coagrisol, de Soledade, há dois anos, o estatuto foi reformulado, as necessidades foram mapeadas e foi feito um desenvolvimento da gestão dentro da cooperativa. Também foi criado, na ocasião, um comitê de mulheres e outro voltado aos jovens. Sobre esse movimento da empresa, Nei Mânica, presidente da Cotrijal, declarou:
— Nesse aspecto, (a Coagrisol) foi sábia porque sabia da dificuldade, sabia que não poderia reverter a situação e, antes que desse outro problema como deu em outras cooperativas aqui no Estado, nos procurou propondo uma parceria de intercoopreação. Depois, acabamos fazendo a incorporação dela.
Por que profissionalizar gestão e governança
Para Hartmann, investir em gestão e governança é "imprimir velocidade no cooperativismo".
— O cooperativismo tem pressa. Nós temos tanta oportunidade, tanta coisa por fazer, tanta alternativa de construir, de operação transversal, de novos negócios. Nós temos que ser, acima de tudo, eficientes — acrescenta o dirigente, referindo-se à intercooperação.
Mânica concorda:
— Se você não tiver estrutura de gestão, você não chega a lugar nenhum. Cooperativismo é uma empresa que tem que ter gestão profissional, tem que trazer resultado, tem que manter o homem no campo, buscar melhores preços, menos custos, buscar alternativas políticas.
E a superintendente da OCB, Tania Zanella, que também participou do painel, fez coro:
— Gestão é fundamental, especialmente quando se olha para o nosso modelo de negócio. Mas a gente não pode ter um paraíso social em cima de uma ruína econômica. O cooperativismo tem que se mostrar cada vez mais capaz de ser a oportunidade que o país precisa.
Tania se refere, além da importância econômica do setor, ao papel social do cooperativismo. Atualmente, há 4,6 mil cooperativas nos sete ramos, 20,5 milhões de brasileiros vinculados às cooperativas, 600 mil empregos gerados e um movimento financeiro superior a R$ 600 milhões de reais, de acordo com a superintendente da OCB.
É o que vive na prática a produtora de leite Larissa Zambiazi, de Coqueiros do Sul, que também é tecnóloga em gestão de cooperativas e mestre em desenvolvimento rural:
— A nossa propriedade rural não teria crescido sem o apoio e o suporte das cooperativas (assistência técnica). Foi através das cooperativas que chegaram para nós novas tecnologias, novas ferramentas de gestão.
Apesar da sua formação na área, Larissa sempre esteve inserida no meio cooperativista. Junto com seu pai, ela conta que subia as escadas da cooperativa para emitir notas de venda de leite ou comprar um insumo. Para o futuro, a produtora entende que é preciso pensar a cooperativa como "extensão da nossa propriedade":
— A gente deve de fato unir forças. O cooperativismo é isso, são as forças unidas. Agregar mais pessoas para que a gente possa de fato passar essas crises com um quadro social fortalecido, renovado, que tenha representatividade, diversidade.
No âmbito do Estado, o secretário da Agricultura, Giovani Feltes, que também participou do painel, falou ainda como o governo pode colaborar com o fortalecimento cooperativista:
— Ter o cuidado e a responsabilidade de dar condições de sanidade, de observância das melhores práticas, de abrir novos mercados. E o Rio Grande do Sul vem fazendo isso. Da mesma forma, criar possibilidades para que nós tenhamos logísticas um pouco mais favoráveis.
O evento também contou com a mediação da jornalista Gisele Loeblein, que assina a coluna Campo e Lavoura.