Os olhares curiosos dos produtores rurais e a busca por informação nos estandes de cultura de trigo, na 23ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, refletem o desejo por uma segurança de rentabilidade para a cultura que foi recorde na safra de inverno de 2022, em meio ao cenário de estiagem em algumas regiões do Estado na safra de verão.
Na safra de inverno do ano passado, o Rio Grande do Sul colheu mais de cinco milhões de toneladas do cereal, segundo dados da Emater/RS, 46% a mais que o volume produzido em 2021. O montante recorde contou com a maior área dos últimos 42 anos, com 1,45 milhão de hectares.
A possibilidade de entrada neste mercado em razão da quebra da safra e o conhecimento das diferentes cultivares e seus respectivos mercados são assuntos recorrentes com os expositores da feira, que se encerra nesta sexta-feira (10). Além disso, outro fator que chama atenção é a redução de custo de insumos como fertilizantes e inseticidas.
— Com a estiagem e o impacto na rentabilidade dos produtores de algumas regiões, se busca compensar a renda no período do inverno com a cultura do trigo. É a melhor ferramenta para fazer dinheiro rápido. A relação troca de sacas por hectare com a colheita, com o investimento feito, nunca esteve tão favorável. Isso atrai o produtor — afirma o gerente regional sul da Biotrigo Genética, Tiago De Pauli, que estima uma expansão de mais de 15% de crescimento de área para o cereal no Estado neste ano.
A produção começa pela escolha da cultivar
O processo para iniciar a lavoura de trigo, no entanto, precisa ser norteado pela escolha da cultivar e qual mercado o agricultor deseja seguir para a produção de farinha. O maior mercado de cultivar de trigo no Brasil é o da panificação, que alcança até 60% da moagem do cereal no país, conforme relata a gerente de desenvolvimento de produto para indústria da Biotrigo Genética, Kênia Meneguzzi.
— Tudo começa pela cultivar. É importante pensar em qual mercado se quer atuar para iniciar o planejamento para determinado manejo — declara.
O manejo do cereal é fundamental e exige diferentes cuidados. A dosagem de farinha e amido, por exemplo, contrasta na utilização para produtos oriundos do cereal, sendo uma quantidade diferente para panificação, linha de congelados e biscoitos para confeitaria.
— Sempre se pensa na proteína. Se é uma farinha forte, sustenta processos industriais. Se vai ter estabilidade para atender o mercado de congelados, que está em crescimento. Do contrário, o manejo pode ser com menos proteína e mais amido, para farinhas de biscoito.
Pães artesanais como vitrine
Para exemplificar os processos de produção de farinha de trigo, a padeira artesanal Alethea Suedt, com mais de dez anos de atuação, expôs sua linha de produção para quem transitava pela empresa de melhoramento de trigo e desenvolvimento de cultivares, em Não-Me-Toque. Ela esteve na feira na segunda-feira (6) e conversou com produtores rurais, representantes da indústria moageira e visitantes.
A padeira apresentou pães de três cultivares diferentes: TBIO Ponteiro, TBIO Calibre e TBIO Trunfo, todos com indicações distintas com características agronômicas e qualidade industrial próprias.
Com mais de dez anos de experiência e eleita a melhor padeira de São Paulo pela revista Comer e Beber, em 2019, Alethea é conhecida por cultivar o trigo utilizado em suas farinhas.
Ela planta o cereal junto com pequenos agricultores e moe os grãos em cozinha própria, cultivando o próprio fermento e manuseando cada fornada para chegar até o consumidor final.
GZH Passo Fundo
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