O momento não é confortável. Esta é a primeira constatação da planejadora financeira e head de educação da Super Rico, Paula Bazzo, ao analisar o contexto que levou os brasileiros ao endividamento. Segundo ela, a pandemia colocou a dinâmica econômica mundial em recessão, impactando diretamente as famílias.
— Nem toda dívida é ruim. As imobiliárias constituem patrimônio. Ainda assim, se em cada 10 pessoas, oito têm algum tipo de dívida, é significativo. Então temos que ficar alertas à reorganização financeira —pondera a especialista.
Mas a economia é cíclica e quem conseguir contornar o período turbulento pode colher bons resultados quando chegar a retomada. Nesta entrevista, ela dá dicas para quem quer – ou precisa – rever os gastos do cotidiano.
Por onde começa o reequilíbrio das contas familiares?
Temos que vigiar o impulso ao consumo, ao qual somos estimulados o tempo todo. Nas redes sociais estamos vendo a vida dos outros, as campanhas publicitárias. O primeiro passo é olhar para a economia doméstica e identificar o que é essencial. Não significa, necessariamente, cortar aquilo que nos traz prazer. As pessoas com melhor situação são aquelas que organizam 50% da renda para despesas essenciais, 30% para atividades sociais e 20% para projetos de vida. Quando a gente vem de uma época sofrida, como agora, é natural querer fazer compensações. A solução é encaixar no orçamento.
Quais itens pesam mais?
Moradia, alimentação, transporte e saúde. O peso de cada um depende do ciclo de vida: famílias com três filhos sentem o preço da educação, enquanto para uma pessoa idosa a saúde custa mais. Quem está adquirindo a casa própria tem mais despesa com moradia e o transporte depende do quanto se desloca e se recebe suporte do empregador.
Como economizar neste custo sem comprometer a qualidade de vida?
Na energia elétrica, quem tem baixíssima renda pode se informar sobre a tarifa branca, que é social. Quem não tem perfil, pode substituir as lâmpadas pelos modelos LED, que têm consumo muito menor – há o investimento inicial, mas com o tempo acaba se refletindo positivamente. Em relação à alimentação, são interessantes a marmita e pequenos lanches no dia a dia. Se você parar para pensar, aquele docinho que acompanha o café… Daqui a pouco gastou R$ 12. Em 20 dias, são R$ 240. Poderia fazer um lanche mais saudável e que respeitasse um orçamento interessante. Para os deslocamentos, existe a possibilidade de carona entre colegas, fazendo uma rotatividade, ou substituindo o transporte individual pelo coletivo.
Vale a pena fazer compras mais espaçadas e em maior quantidade?
O consumo de produtos de limpeza, por exemplo, costuma ser caro. Quando a gente compra em atacado, às vezes consegue reduzir significativamente.
É o momento de comprar imóvel? Como avaliar financiamentos ou consórcios?
Os juros estão altos, então se tivesse condições de esperar uns dois anos eu esperaria. Ano de eleição também torna toda a conjuntura mais instável. Vale a pena segurar um pouco e até aproveitar essa situação: se teria condições de pagar, começa a guardar para que esse juro jogue a favor. Daqui a dois anos, vai ter uma condição melhor de entrada.
Como as pessoas podem visualizar as pequenas economias diárias, tendo motivação para continuarem poupando?
Não tem receita, mas disciplina. A motivação é momentânea; a disciplina ajuda a executar aquilo que desejamos. Mesmo não estando motivado, como me conecto com o que eu quero? A pessoa vai depositando a reserva de emergência, mesmo vendo o amigo fazendo um consumo momentâneo. É a diferença entre quem prospera e quem não prospera.