A escalada do custo de vida elevou o número de pessoas que não conseguem pagar os boletos do mês. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), quatro entre 10 famílias estavam com uma conta em atraso em junho, a 13ª alta consecutiva e quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado (20,8%). Com o orçamento apertado, a alternativa de muitos é buscar crédito, situação que exige cuidado num cenário de aumento de juro.
Economista da Capse Investimentos e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Inácio Recena explica que o ponto de partida para a boa saúde financeira é analisar se o tamanho da parcela do financiamento cabe no bolso. Geralmente, acrescenta, empréstimos com garantias, como imóveis, carros e investimentos, possuem custos de juro menores do que as modalidades tradicionais:
— O ponto principal é não deixar dívidas para trás. É preferível contrair uma única para quitar todas as que estão em aberto.
Caso não consiga pagar, outra possibilidade é renegociar com instituições que oferecem descontos para o total do saldo devedor. No entanto, para isso, é preciso ter dinheiro na conta.
Apesar de um leve recuo, 93,3% das famílias gaúchas disseram ter algum tipo de dívida em junho, ainda segundo dados da Fecomércio-RS divulgados em meados de julho. No mês anterior, em maio, esse percentual correspondia a 94,4%. Mas, em junho do ano passado, o endividamento era de 78,6%.
E o bolso das famílias não deve ter um alívio nos próximos meses, aponta o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e economista Mário Rubens. De acordo com ele, os preços de itens comuns do dia a dia devem continuar no mesmo patamar por conta do preço das commodities agrícolas, da guerra da Ucrânia e deste momento de menos restrições da pandemia.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica de Porto Alegre chegou a R$ 754,19 em julho, valor abaixo dos registrados nos dois meses anteriores, R$ 768,76 e 780,86, respectivamente, mas bem acima dos R$ 656,92 do mesmo mês de 2021.
— Infelizmente, as pessoas precisam se adequar. Se não tiverem opção, é possível optarem por um crédito consignado com juro menor — defende Rubens.
Quando o assunto é cartão de crédito, especialistas são unânimes em afirmar que é preciso tomar cuidado para evitar uma bola de neve de juro que pode chegar a cifra milionária. O mesmo acontece com o cheque especial — aquele saldo negativo que fica na conta quando você saca mais dinheiro do que possui.
— O cartão de crédito, quando bem utilizado, é um aliado. Porém, é permanentemente proibido deixar de pagá-lo. A falsa sensação que um limite dá, de que temos dinheiro disponível, pode colocar muita gente em situação difícil. Uma forma bastante direta de saber se pode arcar com a nova dívida é perguntar: consigo pagar a fatura do próximo mês por completo? Se a resposta for não, melhor ficar em alerta — destaca.
O cartão de crédito continua como a principal dívida dos gaúchos, com 91,6% dos endividados, seguido por carnês (39,8%), financiamento de carro (22,9%), e crédito pessoal (15,7%), mostra a Fecomércio-RS.
Dicas para usar o cartão de crédito
Apenas o necessário
Pesquisa do Serasa eCred mostrou que 47% dos brasileiros têm, em média, quatro cartões de crédito ou mais. O economista Inácio Recena orienta que não se deve ter vários cartões, mesmo que eles tenham um limite baixo, para não cair na armadilha das dívidas.
Recurso
Lembre-se de que o cartão de crédito pode ser usado também para compras de produtos de menor valor que não tenham um bom desconto à vista. Com inflação alta, o desconto à vista precisa ser até melhor para que não se opte pelo cartão de crédito. Afinal, dinheiro aplicado rende bem.
Evite o pagamento mínimo
Não pague apenas o valor mínimo da fatura, pois o que não é pago entra no rotativo, incidindo o juro alto.
Parcelamento de fatura
É uma possibilidade se você for pagar o cartão já no outro mês. Mas, se a dívida for se estender no cartão de crédito, a melhor opção pode ser pegar um empréstimo pessoal, pela taxa menor.
Cuidado com as taxas
Verifique se há opções de cartões mais baratos. Hoje, há muitas bandeiras sem anuidade, por exemplo.
Empréstimo com garantias
Fazer um empréstimo com garantia para pagar o cartão de crédito exige atenção. O juro desta modalidade é menor, mas exige atenção. Em caso de não pagamento, a dívida pode acumular e a pessoa poderá perder o imóvel ou carro.
Renegocie a dívida
Se faltou dinheiro para pagar 100% e foi preciso parcelar a fatura, considere buscar dinheiro a um juro menor para pagar essa dívida – isso ajuda a evitar que o débito do cartão vire uma bola de neve.
Taxas médias de juro por modalidade (pessoas físicas, ao ano):
- Cartão de crédito rotativo: 355,2%
- Cartão de crédito parcelado: 174,3%
- Cheque especial: 132,6%
Fonte: economista Mário Rubens, com dados do Banco Central