Nos últimos meses, seguradoras vêm lançando no mercado opções de cobertura sob demanda. Depois de um foco inicial em veículos, o próximo passo é ampliar o cardápio para bicicletas, patinetes, celulares, casa e até plano de saúde.
A diferença desse tipo de seguro para o tradicional é que o cliente pode contratar coberturas pontuais, pagando somente pelo que usar. Um seguro de automóvel, por exemplo, pode ser contratado apenas por 24 horas para uma viagem até a praia.
A modalidade, conhecida como seguro "liga e desliga" ou "pay per use", surgiu no mercado brasileiro após circular da Superintendência de Seguros Privados (Susep) publicada em agosto de 2019 permitindo a comercialização de seguros com vigência reduzida e por período intermitente.
Há dois formatos principais. No primeiro, o cliente paga uma assinatura mensal e mais um valor variável de acordo com a utilização. Esse é o modelo oferecido no seguro de automóveis da Thinkseg. Os planos de assinatura começam em R$ 25 por mês, mais um valor calculado de acordo com a quilometragem utilizada no período.
O plano da empresa é incluir até o final do terceiro trimestre bicicleta e patinete entre as opções. A ideia é que o usuário possa ir trocando a cobertura conforme trocar o meio de locomoção utilizado.
— O pay per use vale para todos os produtos que têm algum tipo de comportamento pessoal para ser mensurado. Nosso próximo produto a ser lançado fora da categoria de automóveis, por exemplo, é um seguro saúde. A ideia é que você pague uma assinatura e um valor variável a mais pelo quanto usar — diz André Gregori, presidente da Thinkseg.
Questionado sobre como funcionariam as regras de carência nessa modalidade, o empresário afirmou que ainda não pode detalhar o plano, mas que o produto deve ser lançado até o final deste ano.
A Thinkseg pretende ainda lançar um seguro de vida em moldes parecidos, calculado segundo os hábitos de vida do cliente mensurados pelo celular (prática de exercícios diários e número de horas de sono, por exemplo).
Um segundo formato de pay per use é mais literal: nele, não há mensalidade, e o cliente paga apenas pelo período de cobertura utilizado, calculado a partir do momento em que ele próprio liga e desliga a função pelo seu celular. Esse é o modelo oferecido pela Argo para automóveis. O valor cobrado começa em R$ 40 para um período de 24 horas em rodovia e cobre perda total por colisão, diz Newton Queiroz, presidente da seguradora.
De acordo com o empresário, o produto tem como alvo dois perfis de cliente, sobretudo: a classe média baixa, que tem interesse em um seguro mas não consegue pagar atualmente, e jovens que usam o carro eventualmente. Queiroz afirma que os próximos passos são oferecer essa modalidade de pay per use para bicicletas, equipamentos portáteis (como câmeras fotográficas, de vídeo e laptops) e residências.
Nesse último caso, a ideia é que o cliente contrate um mix de coberturas: uma apólice anual contra incêndio e danos elétricos e outra contra roubo por um período limitado, válida apenas quando o morador for viajar. O plano da Argo é lançar essas novas opções no mercado entre o segundo semestre deste ano e 2021.
Alcançar a classe média baixa também é o objetivo da Kakau, empresa que oferece seguros para residência, celular e bicicleta no modelo de assinatura mensal. O próximo passo é oferecer o pay per use para bicicletas a partir de setembro. Nesse produto, o cliente poderá contratar uma cobertura por horas ou minutos pagando um preço dinâmico (método utilizado pela Uber, por exemplo).
— Se você for pedalar entre São Paulo e Santos, o aplicativo vai te mostrar o valor da cobertura considerando a quilometragem, a velocidade média e o tipo de bicicleta — diz Henrique Volpi, sócio da Kakau.
O seguro cobrirá roubo e queda. A inclusão de um seguro de vida do ciclista está sendo negociada, segundo o empresário.
A Onsurance oferece cobertura semelhante para automóveis. Nesse modelo, o cliente compra créditos de seguro de modo semelhante a um celular pré-pago, consumidos a partir do momento em que o segurado ativa a cobertura até o momento em que ela é desligada.
De acordo com a seguradora, cada cliente gasta em média R$ 70,25 por mês. Adilair Silva, cofundador da Onsurance, diz que a utilização do produto caiu durante a pandemia, mas que a procura disparou.
— O aumento do número de pedidos se dá em parte pelas pessoas ficarem mais sensíveis a nossa proposta de uso racional... Ou seja, o nosso produto faz ainda mais sentido nestes tempos de restrição da circulação das pessoas — afirma o empresário.
Os seguros pay per use, no entanto, também geram preocupação. Marcelo Blay, presidente da distribuidora Minuto Seguros, questiona o que acontece com o segurado que tem o carro roubado em um momento que esqueceu de ligar a cobertura, por exemplo.
— Como ele fica? — questiona.
Blay cita também problemas com zonas em que o monitoramento da cobertura falhe por problemas de sinal.
— Acho o seguro intermitente um produto ótimo, que vem para ficar, mas ainda precisamos aprender muito com ele — afirma.