O ramo agro do cooperativismo segue a tendência de bons resultados do setor. De acordo com o relatório Expressão do Cooperativismo Gaúcho 2022 (ano-base 2021), ainda que sofrendo os impactos da pandemia sobre a economia global, o faturamento cresceu 45,9% no último ano. Porém, o período pós-crise sanitária deve trazer desafios. É o que observa o presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs-Sescoop), Darci Hartmann — a entidade elabora o relatório.
Conforme o executivo, os anos de 2020 e 2021 impuseram mudanças nas formas de trabalho e na comercialização, com estabelecimento de novos protocolos e aceleração da digitalização de processos, o que reduziu ainda mais as fronteiras físicas. Porém, a quebra da safra 2021/2022, em razão da estiagem, deve ser sentida, como a economia do Estado de forma geral.
O Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho caiu 3,8% no primeiro trimestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano anterior, sendo que todas as principais culturas agrícolas sofreram com a falta de chuvas — especialmente soja (-53,5%) e milho (-31,1%). Como cerca de 48% do que é produzido no campo passa pelas cooperativas, segundo o Censo Agropecuário de 2017, é impossível que o setor não sinta esse efeito.
— Plantou-se muito, mas o associado não pode colher. E isso agravado agora pela guerra na Ucrânia, pelo aumento do preço dos fertilizantes, dos combustíveis, da taxa Selic. Daqui por diante, fatalmente, a agricultura vai crescer muito, mas com base na queda do ano passado. Então, não podemos pegar números de um ano para outro, mas dos últimos cinco anos, como base de comparação — diz Hartmann.
Para o economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Tarcísio Minetto, as cooperativas de crédito rural são vitais para a resiliência do setor, servindo às pequenas empresas e cooperativas rurais menores. Vislumbrando um ano difícil, mas de recuperação, o economista diz que as cooperativas estarão ao lado dos associados na busca de novas linhas de crédito, diante da alta nos custos de produção.
— O cooperativismo é forte no fornecimento de insumos, que encareceram muito. O custo para fazer uma lavoura aumentou de 50% a 55%, o que indica que as cooperativas vão ter de buscar crédito superior. Há demanda reprimida por crédito — afirma.
Preços e custos em alta versus poder de barganha
O preço das commodities em alta também não serve de conforto para os ramos de laticínios e proteína animal, impactados pelo preço das rações. Mas essas dificuldades não são inéditas, lembra o presidente da Cotrijal, Nei Manica, que destaca a capacidade de comprar grandes volumes e o poder de barganha do setor para dar alívio aos produtores.
— O cooperativismo é o propulsor de desenvolvimento que dá mais respaldo ao produtor. Deveremos sentir as perdas, a alta nos custos, mas isso faz com que precisemos ter mais produtividade em nível de safra. Para isso, é preciso equacionar a capacidade de plantio, gestão e assistência técnica para viabilizar a conta final — explica.
A Cotrijal já projeta crescimento de 30% nas culturas de inverno, especialmente, na área de trigo. Mânica ainda vê boas perspectivas de clima e mercado para os próximos meses, o que deve ajudar o setor a voltar ao patamar dos anos anteriores, pois, segundo ele, as cooperativas têm todo o conhecimento e estrutura comercial para ajudar o produtor rural. O presidente do sistema Ocergs, Darci Hartmann, faz coro.
— Estamos otimistas. A produção do cooperativismo, como modelo, como filosofia, tem de competir com os melhores players, mas temos a grande virtude da capilaridade e, acima de tudo, da promoção do desenvolvimento social – diz