Sem o novo reajuste do diesel na conta, a inflação do agronegócio já traz efeitos sobre o bolso do produtor. No acumulado de 12 meses, o avanço de 34,58% no índice de custos de produção é nova marca recorde da série histórica iniciada em 2010 pela Federação da Agricultura do RS (Farsul). O percentual, que tem o mês de agosto como base, superou o anterior, até então o maior – em igual intervalo.
Outro ponto que chama a atenção é dos gastos superando pela primeira vez os preços recebidos. Que não são ruins, importante dizer – em 12 meses, têm alta de 29,7% –, mas sinalizam uma nova safra de rentabilidade mais estreita.
– Os custos estão subindo, e os preços, ficando mais estáveis. A tendência é de margens menores – observa Danielle Guimarães, economista da Farsul.
Sobre as despesas, que só em agosto tiveram aumento de 4,18%, pesa a soma de oferta restrita com a da taxa de câmbio ainda elevada. Parte dessa combinação vem da escassez de matérias-primas e insumos e a pouca disponibilidade de adubo. E, para completar, os aumentos de frete e de energia elétrica.
Nos preços recebidos pelo produtor – que chegaram a ter 80,51% de avanço em 12 meses –, a expectativa é de que, no longo prazo, se estabilizem. Dentro de novos patamares, frisa Danielle:
– No ano passado, a oferta foi reduzida pela seca, houve escalada da taxa de câmbio e aumento de demanda tanto externa quanto interna.
Fatores que impulsionaram de forma intensa a valorização. Neste ano, há diferenças. A safra teve perdas pontuais no milho, mas foi recorde na soja. Nas semelhanças, a desvalorização do real frente ao dólar persiste, mesmo que em menor intensidade. E o auxílio emergencial, que em 2020 alimentou o apetite doméstico, foi reeditado, ainda que em formato menor.
Isso faz com que os preços sigam em trajetória de ascensão. No mês passado, além dos grãos, que se mantêm em bom nível, a carne de frango ajudou a puxar o índice. Reflexo do cenário de custos maiores acumulados.
O levantamento destaca ainda que as despesas relacionadas à produção registram uma expansão bem acima do IPC, que tem alta de 9,86% no acumulado de 12 meses.