Diante do reajuste do diesel anunciado pela Petrobras, o impacto à atividade agropecuária é inevitável e promete alimentar ainda mais a alta nos custo de produção, porque carrega também efeitos indiretos. Na inflação do setor medido pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) referente a julho, os gastos acumulavam, em 12 meses, aumento de 26,91%, a maior desde o início da série histórica, em 2010. Puxando a frente das despesas estavam os fertilizantes, que responderam por 26,6% do indicador.
E é sobre insumos como esse que o combustível traz repercussões indiretas. Com o frete maior, ficam igualmente mais caros - no caso do adubo, há de se considerar, claro, a variação cambial, já que a maioria dos compostos é importada.
- No momento que aumenta o combustível, é natural que se tenha uma alta no custo ainda maior do que a que já se conhece - reforça o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.
A primeira implicação - e mais direta - é no gasto com as máquinas que movem a agropecuária moderna, pondera o economista. Chegam aos insumos, por conta do frete, e atingem também o preço dos produtos vendidos:
- O que o produtor recebe é valor da soja de Rio Grande menos o custo de levar até lá.
O diesel, para operações mecânicas e para frete, foi o quarto item de maior peso no custo operacional total da produção em julho da Farsul, com parcela de 6,5%.
É também o reflexo mais imediato a ser sentido pela indústria de laticínios, mas não o único, lembra Alexandre Guerra, presidente do Conseleite. O conselho paritário que reúne empresas e produtores divulgou ontem o preço projetado para o mês. O R$ 1,7009 por litro é recuo de 1,97% sobre agosto. O peso do combustível fica em torno de 10% do valor ao produtor.
O dirigente ressalta que o dilema é a alta no custo e como repassar isso com menor poder de compra do consumidor:
- Enquanto alguns produtos que a indústria comercializa tiveram alta de 13%, temos, na outra ponta, reajuste de 30% nos insumos.
Luz pondera que a perspectiva de aumento nos combustíveis estava no horizonte em razão da recuperação depois de queda brusca do petróleo. E acrescenta que esse "é um fenômeno global".