A semana começou com a cotação da soja em mais um dia de alta na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos. No embalo de fatores como a elevada demanda chinesa, que tende a apertar os estoques americanos do grão, os contratos para maio fecharam na segunda-feira (21) a US$ 16,91 o bushel (medida equivalente a 27,2 quilos). O valor representa uma alta de 23 centavos — ou 1,38% a mais — em relação ao negociado na sexta-feira.
Índio Brasil dos Santos, sócio-diretor da Solo Corretora, explica que o apetite da China alimenta as exportações totais do grão americano, que já chegam agora muito próximas ao volume previsto até agosto:
— O estoque ficará menor, e Chicago sobe por conta disso.
Outras questões vêm influenciando o mercado de commodities, como a valorização do petróleo.
— O óleo de soja também foi impulsionado pelo fortalecimento do petróleo, que faz com que refinarias tenham mais incentivo para misturar biodiesel ao diesel. O derivado é uma das principais matérias-primas usadas na fabricação do biocombustível — pondera Carlos Cogo, consultor em agronegócio.
Soma-se a esses ingredientes a confirmação da ampliação, de 31% para 33%, da taxa cobrada para exportação de soja na vizinha Argentina, que já vinha sendo monitorada.
Pelo cenário posto, nem mesmo o dólar tendo fechado abaixo de R$ 5, algo que não ocorria desde julho do ano passado, os preços da soja em reais seguem elevados. Têm girado em torno de R$ 200 a saca no Rio Grande do Sul. As cotações teriam o potencial para compensar prejuízos causados pela estiagem no Estado.
O problema, no entanto, é o tamanho da perda, a ser conhecido com exatidão ao término da colheita — ainda na casa de 9% — , mas com redução média estimada em torno de 50% sobre o esperado no início do ciclo.
— Com certeza, as perdas são maiores do que os ganhos — avalia Roges Pagnussat, presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Estado (Acergs).
A ponderação feita pelo dirigente vem, além do volume perdido para o clima, do contexto que inclui os custos de produção em elevação e a guerra Rússia-Ucrânia, que torna ainda mais imprevisível a projeção de valores no mercado regido pela lei de oferta e procura.
— Mesmo o produtor que tem soja de reserva (da safra passada), não está vendendo, fazendo com o que o mercado se arraste. A venda tem sido da mão para boca — acrescenta o sócio-diretor da Solo Corretora.