Correção: o aumento de exportações previsto com o novo status é de R$ 1,2 bilhão, e não US$ 1,2 bilhão como publicado entre as 8h19min e as 13h10min. O texto já foi corrigido. A informação equivocada foi repassada pelo governo do Estado.
Depois de um longo caminho percorrido, marcado pela união de esforços entre produtores rurais, autoridades e entidades do setor, o Rio Grande do Sul foi reconhecido oficialmente, na manhã desta quinta-feira (27), como zona livre de febre aftosa sem vacinação. O novo status sanitário, confirmado em assembleia geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), representa uma conquista histórica e traz consigo a promessa de grandes negócios, mas também impõem desafios.
Será preciso manter o rigor nos cuidados sanitários e garantir que os criadores sigam atentos para evitar riscos. Até hoje, muitos deles guardam vivo na memória o trauma testemunhado em Joia, no noroeste do Estado, no início dos anos 2000.
Há 21 anos, outdoors espalhados pelas rodovias comemoravam a vitória sobre a doença, e a certificação internacional — hoje uma conquista real — era esperada com ansiedade. A descoberta de um foco do vírus levou ao sacrifício de 11 mil animais.
Desde então, a suspensão da imunização despertava sentimentos ambíguos entre os produtores. Graças a esforços conjuntos e a ações concretas, o desfecho positivo chancelado pela OIE abre novas perspectivas e sopra ventos de prosperidade no campo.
Segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, a novidade tem potencial para abrir mercados como Japão, Coreia do Sul, México, Estados Unidos, Chile, Filipinas, China (carne com osso) e Canadá, alcançando até 70% dos compradores mundiais. A expectativa é de aumento nas exportações da ordem de R$ 1,2 bilhão ao ano só com a venda de carne suína, um incremento de 26,7% em relação a 2020.
— Vamos poder exportar carne bovina, suína e de aves para os mercados mais exigentes do mundo. Isso é um grande êxito para a agropecuária gaúcha e é resultado de um trabalho feito por muitas mãos. Só o governo do Estado investiu R$ 12 milhões para fortalecer as inspetorias veterinárias — destaca a secretária Silvana Covatti, que viajou a Brasília com o governador Eduardo Leite para acompanhar o anúncio da OIE ao lado da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Os benefícios prospectados animam líderes setoriais, mas isso não significa que a tarefa terminou. Daqui para frente, será preciso atenção contínua.
— Sem dúvida, é uma boa notícia e é motivo de comemoração. Teremos oportunidades, mas também grande responsabilidade. Esse binômio tem de ser o nosso mantra. Temos de nos manter absolutamente unidos e vigilantes. O produtor tem de fazer a sua parte e o poder público precisa ampliar ao máximo a estrutura que foi criada para fiscalização — reforça o presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Leonardo Lamachia.
À frente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira concorda. Ele classifica a certificação como um “avanço”.
— Com o novo status, estamos mostrando ao mundo que temos capacidade e eficiência para manter uma região livre da aftosa e de outras enfermidades. Temos de pegar o certificado da OIE e sair pelo mundo em busca dos novos mercados. Agora, isso também exige um compromisso muito grande de todos os atores envolvidos — diz Pereira.
Uma das peças fundamentais nesse processo, além dos próprios criadores e do poder público, é o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), criado pela iniciativa privada com a participação do governo do Estado. Desde 2005, o Fundesa vem ajudando a reforçar o sistema de defesa sanitária e a garantir segurança aos produtores (com indenização em caso de problemas).
— Ser uma área livre de febre aftosa sem vacinação é um referencial de primeira linha, algo que os setores da produção almejavam há muito tempo. Para o Fundesa, é uma caminhada importante, que começou com a constituição do fundo, em 2005, e com investimentos no fortalecimento do sistema de defesa. Agora começamos uma nova etapa, tão desafiadora quanto a primeira — destaca Rogério Kerber, presidente do Fundesa e diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado.
Na avaliação de Kerber, o Rio Grande do Sul tem todas as condições para avançar e obter resultados que beneficiarão não apenas o agronegócio, mas a economia como um todo. Para ele, o trauma vivido em 2000 ficou para trás.
— Tínhamos um outro cenário. Não havia a estrutura existente hoje. Atualmente, temos ferramentas para uma comunicação rápida e eficaz, contamos com georreferenciamento das propriedades, controle de trânsito informatizado em tempo real, grande capacitação do serviço veterinário oficial e privado. Não tenho nenhuma dúvida de que vamos conseguir manter o novo status, com ganhos para toda a sociedade — afirma Kerber.
Na assembleia geral da OIE também foram reconhecidos zonas livres de aftosa sem vacinação os Estados do Paraná, Rondônia, Acre e parte do Amazonas e do Mato Grosso.