Colaborou Leticia Szczesny
Se tem uma bebida que faz sucesso durante o verão, seja na beira da piscina ou da praia, é a caipirinha. E não é de hoje que o Rio Grande do Sul produz cachaças, um dos ingredientes mais tradicionais do drinque, que estão na lista das melhores do país. O destilado feito à base de cana-de-açúcar no Estado alcançou esse status devido a fatores como boas práticas de fabricação, manuseio adequado da matéria-prima do início ao fim da produção, terroir próprio para o cultivo e fácil acesso a tecnologias.
— Minas Gerais tem mais tradição, mas em termos de qualidade técnica conquistamos maior quantidade de prêmios proporcionalmente ao número de alambiques — afirma Moacir Alberto Menegotto, proprietário da cachaçaria Casa Bucco, de Bento Gonçalves, na Serra.
Menegotto acrescenta que o Rio Grande do Sul não tem como estar entre os maiores produtores do país em volume, pois a cana-de-açúcar só pode ser cultivada em locais nos quais não há ocorrência de estiagem:
— Não conseguimos plantar onde gostaríamos, e sim onde o tempo permite.
No Estado, a destilaria H. Weber, dona da marca Weber Haus, é referência na produção da bebida. Com 20 anos de experiência no setor, cultiva 26 hectares de cana-de-açúcar em Ivoti, no Vale do Sinos. A plantação própria, totalmente orgânica, representa 80% do total utilizado para produção. Os outros 20% vêm de terceiros.
— Minha família já produzia destilados de batata-inglesa na Alemanha, os schnaps. Quando veio para o Brasil, trouxe mudas para seguir fazendo a bebida. Em 1848, descobriu a cana-de-açúcar e começou a substituir a batata-inglesa — conta Evandro Luis Weber, diretor da Weber Haus.
Na época, de acordo com Weber, o destilado era chamado de caninha, aguardente ou pinga. Somente agora o nome oficial “cachaça” está consolidado. Para garantir a qualidade do destilado, a empresa realiza o processo descontínuo em alambiques de cobre. Nessa modalidade, são separadas impurezas, segundo Guilherme Carlin, presidente da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar e Derivados no RS (Aprodecana) e proprietário da marca Cachaça DaChica, que comemora 15 anos.
No processo, somente o coração, ou seja, a parte nobre da destilação, é utilizado para fabricação da bebida. A cabeça e a calda, que são, respectivamente, os 10% do início e o fim do processo, são descartados. Na Weber Haus, por exemplo, essas partes são transformadas em álcool para combustível ou para produção de cosméticos orgânicos.
— Basicamente, todas as cachaças de qualidade são feitas a partir desse processo em alambiques de cobre — ressalta Carlin.
Há ainda a destilação contínua. Ela é feita normalmente em grandes indústrias que moem a cana, fazem a fermentação e a destilação dentro do período de 24 horas sem pausas, explica Weber.
Mercado crescente e com expectativa
Se hoje o segmento tem destaque, a expectativa para os próximos dois anos é de crescimento, projeta Carlin. De acordo com ele, agricultores familiares e pequenos empreendedores buscam se aprimorar, de olho no desenvolvimento do setor:
— Depois do gim, o próximo destilado que terá demanda maior é a cachaça, isso pela possibilidade de envelhecimento em diversas madeiras.
Carlin acrescenta que, muito provavelmente, no segundo semestre deste ano possam ser realizados os primeiros embarques do produto para a China. O assunto está sendo tratado com a Câmara Brasil-China.
Turismo como valorização
Com objetivo de mostrar a qualidade da cachaça feita no Sul, a destilaria Casa Bucco, em Bento Gonçalves, une desde 2001 produção e turismo. A família abre as porteiras da propriedade para cerca de 15 mil pessoas por ano. O roteiro inclui trilha e visita ao alambique com degustação de cachaças e caipirinhas.
A matéria-prima para a fabricação dos 15 rótulos da empresa vem de 17 hectares de cana-de-açúcar. Desde 2012, o cultivo próprio é totalmente orgânico. O que, segundo Moacir Alberto Menegotto, proprietário da cachaçaria, exigiu mudanças de atitude para a não utilização de adubos químicos e agrotóxicos.
O terroir do Rio Grande do Sul, de acordo com Menegotto, favorece a concentração de açúcar na cana, pois a cultura deixa de crescer com a chegada do inverno. O fenômeno gera características peculiares ao destilado do Sul. Maciez e aroma mais delicado são algumas delas, segundo o proprietário da Casa Bucco.
— Com a melhoria da qualidade da cachaça, as pessoas que têm o hábito de consumo conseguem facilmente identificar características aromáticas e de sabor de cada região —afirma Menegotto.
O aprimoramento da bebida também levou consumidores a substituírem outros destilados pela cachaça.
— O brasileiro está conhecendo melhor a bebida. As cachaças aumentaram seus custos, mas o consumidor percebeu que vale a pena pagar pela qualidade — explica o dono da destilaria.
Tipos da bebida
- Armazenada — Fica dentro de barricas maiores de 700 litros por tempo indeterminado.
- Envelhecida — Permanece no mínimo um ano dentro de uma barrica com no máximo 700 litros.
- Premium — Fica a partir de dois anos em barricas de madeira com até 700 litros.
- Extra premium — Envelhece pelo menos três anos dentro de uma barrica com capacidade máxima de 700 litros.
Fonte: Evandro Luis Weber, da Weber Haus
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