Parece uma receita simples: conheça em detalhes a sua propriedade, mapeie seus pontos fortes e fracos e estabeleça objetivos a serem alcançados. Pronto. Estão aí os ingredientes para uma boa gestão. Na prática, não existe fórmula única.
Independentemente do caminho, a adoção de estratégias que garantam a viabilidade do negócio ainda está longe de ser aplicada de forma habitual. Principalmente nas pequenas propriedades, onde o capital de giro mais restrito exige escolhas criteriosas.
Um passo em falso pode comprometer a comida que se coloca à mesa. Foi por isso que a 19ª Expoagro Afubra, realizada de terça a quinta-feira, em Rio Pardo, no Vale do Rio Pardo, colocou o assunto no centro dos debates.
– É necessário o agricultor se qualificar e fazer boa administração da atividade. Quando ele tomar a decisão de investir em novo ramo, é importante que seja com base no controle do que faz – observa Marco Antonio Dornelles, coordenador-geral da feira.
A busca por qualificação marcou o primeiro passo das irmãs Jaqueline, 36 anos, e Simone Couto Gades, 42 anos, que vivem no distrito da Divisa, em Pantano Grande, no Vale do Rio Pardo. Decididas a viver no meio rural e com atuação em outras áreas, foram buscar ajuda de quem tem experiência para dar início à produção de morangos orgânicos. Decidiram integrar um programa de gestão desenvolvido pela Emater-RS, com o objetivo de obter o suporte técnico de que necessitavam.
A dupla vai para a terceira safra, tendo produzido na última 500 quilos da fruta. Vendem o que colhem em 1,5 hectare para programa de merenda escolar e também na propriedade.
– Seguimos um caminho em direção até onde queremos chegar, que é investir em outras culturas – diz Jaqueline.
No caso delas, é no bom e velho caderno de anotações que guardam as informações contábeis. Ainda iniciantes na atividade, dizem que agora “começaram a ter mais ideia dos resultados”.
– Já dá para tirar um pouco para nós – diz Simone, em relação à renda.
Orientações dependem do porte, tipo de produção e localização
As medidas que funcionam para as irmãs Gades, no entanto, não devem ser consideradas como regras a serem aplicadas em qualquer propriedade.
– Gestão não pode ser uma coisa rígida. É diferente em cada região. Cada um tem um tamanho de pé e um sapato que serve – compara o doutor em Economia Célio Colle, coordenador do Programa de Gestão Sustentável da Agricultura Familiar da Emater-RS.
A iniciativa, desenvolvida desde 2016, atende a cerca de 15 mil famílias do Estado. A adesão é voluntária, e o objetivo, explica Colle, é utilizar conjunto de ferramentas para saber se o produtor “está fazendo a coisa certa, sendo eficiente”. Um aplicativo do programa, que será usado inicialmente pelos técnicos, está pronto e deve ser lançado em breve.
– O produtor está ansioso por adquirir conhecimento em gestão. Temos observado uma grande necessidade por parte do público feminino. As mulheres estão se inserindo cada vez mais na propriedade, deixando de ser coadjuvantes – acrescenta Umberto Moraes, coordenador de formação profissional rural do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Estado (Senar-RS).
Prova disso é que, hoje, elas somam 55% do público que busca formação nessa área no Senar-RS. Em quatro anos, foram treinadas 7,78 mil pessoas, com o principal público sendo o de pequenos e médios produtores.
Na Embrapa Clima Temperado, a demanda vem ainda da agricultura empresarial e de consultores que atuam no meio rural. E a exigência por soluções que atendam a realidades distintas fomenta o desenvolvimento de ferramentas específicas – caso dos aplicativos voltados à produção de pastagem e à de arroz.
– É necessário ter visão integrada da propriedade. Caso contrário, ele não terá sustentabilidade – reforça Clenio Pillon, chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas.
E um dos mais eficazes meios de convencimento da importância de tomar as rédeas do próprio negócio são as experiências bem-sucedidas.
– Gestão é compartilhar trabalhos e conquistas. Sem números não há dados, e sem dados não há gestão – disse o presidente da Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner, ao comentar o tema da Expoagro no discurso de abertura do evento.
Como escolher o seu modelo
- Quais os passos devem ser observados pelo produtor na hora de estabelecer o plano de gestão da propriedade
- Procure a ajuda de técnicos, para desmitificar a ideia de que gestão é uma coisa difícil.
- Comece com poucos dados. À medida que se apropriar dessas informações, aprofunde-as. Nunca faça o contrário.
- Escolha as ferramentas de controle de dados que melhor se adequem a sua realidade.
- Busque treinamentos para se capacitar.
- Trate a sucessão familiar de forma planejada.
- Garantir a continuidade também é fazer gestão.
- Veja a propriedade de forma sistêmica, lembrando que tudo acaba impactando no resultando final.
- Analise os diferentes indicadores na propriedade. Eles permitem cruzar informações que auxiliam na tomada de decisões.