Calorões, insônia, diminuição da libido e por aí vai. Se você, leitora, tem por volta de 50 anos, provavelmente já sentiu algum dos sinais da famigerada menopausa. E mais: assim como outras tantas mulheres, pode estar repleta de dúvidas e inseguranças sobre essa fase que marca o fim do período fértil e traz importantes mudanças hormonais.
Por isso, Donna abriu espaço para as leitoras enviarem questionamentos sobre o tema por meio dos grupos da revista nas redes sociais, como o Grupo de Mães Donna no Facebook. Abaixo, as ginecologistas e obstetras Gislaine Casanova, médica da Unidade de Endocrinologia Ginecológica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e Silvane Nenê Portela, professora da faculdade Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF) e da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), ambas membros da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), respondem às principais perguntas sobre o tema.
1. Quais as dicas para diminuir os calorões (fogacho) característicos do período?
Pergunta enviada por Maria Valéria e Rossana Lisboa, de Porto Alegre
Resposta da médica Gislaine Casanova: "Embora os calorões sejam o principal sintoma do climatério e da menopausa, podem não acontecer para algumas mulheres, além de apresentar intensidade variada. Medidas comportamentais e de redução do estresse, como fazer exercícios físicos regularmente, ou investir em atividades que envolvam relaxamento, como ioga, podem ajudar e diminuir o desconforto com os calorões. Terapias com apoio emocional, como a cognitivo-comportamental, também trazem benefícios neste período. Para aquelas que apresentam calorões frequentes e, mesmo com medidas de comportamento e atividade física, mantém os sintomas, deve ser discutido com o ginecologista o apoio de terapia com medicamentos, que pode ser tanto terapia hormonal quanto medicamentos não hormonais".
2. Qual a diferença entre menopausa e climatério?
Pergunta enviada por Paula Oliveira de Sá, de Porto Alegre
Resposta da médica Gislaine Casanova: "A menopausa é definida como a última menstruação da vida de uma mulher. Para fazer o diagnóstico da menopausa é preciso que a mulher esteja há um ano sem menstruar a partir da idade natural de ocorrência, ou seja, após os 40 anos. Já o climatério é um período em que ocorrem as mudanças hormonais que marcam a passagem da vida reprodutiva da mulher para a fase não reprodutiva. Importante ressaltar que não há idade certa: pode ocorrer dos 40 anos aos 65 anos".
3. Toda mulher precisa fazer terapia hormonal (reposição de estrogênio) quando chega na menopausa? Por quê?
Pergunta enviada por Giovana Neves Peixoto, de Santo Antônio da Patrulha
Resposta da médica Gislaine Casanova: "Não, nem toda mulher precisa fazer terapia hormonal com estrógenos. A terapia hormonal com estrogênio é o tratamento medicamentoso mais eficaz para o alívio dos sintomas da menopausa. Deve ser indicada para mulheres que apresentem sintomas da menopausa, em conjunto com outras recomendações para estimular a saúde e o bem-estar. A terapia hormonal é, portanto, uma escolha da mulher para tratar seus sintomas, e deve ser individualizada, levando em conta os sintomas apresentados, a saúde geral e a presença ou não de contraindicações ao tratamento".
4. É verdade que a menopausa reduz a libido?
Pergunta enviada por Paula Oliveira de Sá, de Porto Alegre
Resposta da médica Gislaine Casanova: "Sim, durante a fase da transição para a menopausa e ou no período pós-menopausa podem ocorrer mudanças hormonais que interferem no desejo sexual".
5. Como saber se estou na menopausa? Quais os primeiros sintomas?
Pergunta enviada por Cláudia Maria Beretta, de Porto Alegre
Resposta da médica Gislaine Casanova: "Menopausa é a ausência de menstruação por, pelo menos, um ano. Antes da última menstruação, uma série de eventos hormonais ocorrem, dando origem aos sintomas do climatério. Em geral, o primeiro sintoma é a mudança de padrão da menstruação, que passa a ocorrer em um intervalo menor de tempo ou com mais volume de sangramento. Após esse período, a mulher percebe falhas na menstruação, ou seja, menstruações irregulares. Geralmente, os primeiros sintomas são modificações da menstruação".
6. Quanto tempo demora para passar os sintomas da menopausa, como os calorões e a instabilidade de humor?
Pergunta enviada por Alina Andrade
Resposta da médica Gislaine Casanova: "O tempo que cada mulher vai sentir calorões varia muito. Algumas não sentem em nenhum momento, e outras apresentam fogachos por longos períodos. Segundo um amplo estudo que acompanhou mulheres neste período, o tempo médio de duração dos sintomas da menopausa foi de sete anos. Além do período, varia também a intensidade com que os sintomas se manifestam para cada mulher. Algumas apresentam sintomas leves, que não comprometem sua qualidade de vida, enquanto outras têm sinais mais intensos e precisam de ajuda especializada".
7. Tive câncer de mama e tenho contraindicação à reposição hormonal. Quais as alternativas para amenizar os sintomas?
Pergunta enviada por Lisiane Bittencourt, de Porto Alegre
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "O manejo dos sintomas nas pacientes que tiveram câncer de mama é um desafio na prática clínica. Opta-se, nesses casos, por métodos não hormonais. Dentre os tratamentos farmacológicos, os antidepressivos são os mais eficazes. Mas a escolha precisa ser individualizada, conforme a preferência e o perfil de cada mulher. Também é frequente que elas se queixem de ressecamento vaginal, ardência, dor na relação sexual e urgência miccional. Para esses sintomas, há alternativas como os lubrificantes e hidratantes vaginais, além do laser vaginal, considerado uma opção promissora, porém, ainda há a necessidade de estudos mais robustos".
8. A menopausa acelera a perda de colágeno? A pele vai ficar mais flácida nesse período?
Pergunta enviada por Dani Brondani e Ana Fernanda Mocellin
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "A pele também sofre alterações por causa da deficiência hormonal. Os anos de menopausa tem a ver com o declínio do colágeno e a mudança na espessura da pele. Há maior perda do colágeno nos primeiros cinco anos após a menopausa, o que causa aumento da flacidez, das rugas e diminuição da elasticidade. Há também alterações no cabelo, que ficam mais finos e frágeis".
9. Vou ganhar peso na menopausa? Posso ficar com mais barriga?
Pergunta enviada por Angel Veloz, de Alegrete.
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "Nos primeiros anos da menopausa, as mulheres geralmente ganham massa gorda e perdem massa magra. Essa perda de massa muscular pode ser atenuada pela prática regular de exercícios físico - de preferência, de força e resistência -, por 150 minutos semanais. É fundamental que a mulher faça um acompanhamento com consultas regulares, mantenha um peso adequado, faça uma dieta saudável, cesse o tabagismo e mantenha o controle de comorbidades que possa apresentar".
10. Como a menopausa impacta a osteoporose?
Pergunta enviada por Marcia Hepp, de Porto Alegre
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "Há uma perda acelerada da massa óssea na menopausa. A osteoporose caracteriza-se pela diminuição da densidade óssea, que leva à fragilidade e fraturas. Estima-se que, aos 50 anos, um terço das mulheres terão uma fratura que pode gerar graves consequências, como dor crônica, deformidades, limitações na mobilidade das pacientes e até a morte".
11. O que é a menopausa precoce? Como identificar?
Pergunta enviada por Mariana Rech Rodrigues e Luciana Bettoni, de Porto Alegre.
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "A Insuficiência Ovariana Prematura, popularmente conhecida como menopausa precoce, é uma síndrome causada pela perda da atividade ovariana, que ocorre antes dos 40 anos de idade em cerca de 1% das mulheres. As causas podem ser autoimunes (associadas com doenças da tireoide), genéticas, infecciosas (parotidite, rubéola), iatrogênicas (devido a um tratamento de radioterapia ou quimioterapia para o câncer em crianças ou adultos jovens, ou após a realização de cirurgia de remoção dos ovários), medicamentosas ou por toxinas (tabagismo). Em cerca de 50% das pacientes, a causa exata não é identificada. Há consequências devido à redução dos hormônios precocemente sobre o organismo, com grande impacto sobre a massa óssea, doenças cardiovasculares e alterações de memória.
12. É possível prevenir a menopausa precoce? A idade da primeira menstruação interfere na possibilidade de ter a menopausa precoce?
Pergunta enviada por Cristiane Rodrigues, de São Leopoldo.
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "Não há medidas que possam prevenir a menopausa precoce. Não existe um teste para identificar as mulheres que a desenvolverão, exceto quando está identificada uma mutação, como as causas genéticas, ou quando está prevista a utilização de radio ou quimioterapia. Meninas que começam a menstruar cedo (antes dos 11 anos) apresentam um risco cinco vezes maior de atingir a menopausa precocemente (antes dos 40 anos). O risco é maior ainda naquelas que nunca tiveram filhos".
13. Usar anticoncepcionais influencia na menopausa? O uso de contraceptivos injetáveis contínuos pode antecipar a menopausa?
Pergunta enviada por Mirela Maciel Mendes.
Resposta da médica Silvane Nenê Portela: "Muitas mulheres acreditam que o uso de anticoncepcional contínuo, seja por via oral ou injetável, pode retardar a menopausa, uma vez que as menstruações não ocorrem. Na verdade, o uso do anticoncepcional não protege nem prejudica o estoque reprodutivo: mesmo quando usa o método contraceptivo, a mulher continua perdendo seus óvulos. Antes mesmo de nascer, a vida fértil da mulher já está pré-determinada pelo tamanho do estoque. Mesmo sem ovular, ela continua perdendo seus óvulos, e o uso da pílula anticoncepcional não tem como atrasar a chegada da menopausa, que é quando essa reserva termina e o ciclo reprodutivo chega ao fim".