A mulher acima de 45 anos se transformou. Vive seu auge profissional, conta com muitos recursos que mantêm a saúde em dia e não aceitam mais o papel de coadjuvante de suas próprias histórias.
Mas alguns ciclos são inevitáveis, e a menopausa é um deles. E neste domingo (18) em que é celebrado o Dia Internacional da Menopausa, a área da saúde busca formas de incentivar as mulheres a buscarem especialistas, visando mais qualidade de vida.
Além dos sintomas físicos (alô, calorões!), surgem muitas questões relacionadas à vida sexual. Selecionamos seis pontos explicados por especialistas que valem a pena saber e dar o primeiro passo rumo ao bem-estar.
Preciso repor testosterona?
O médico Gustavo Arantes Rosa Maciel, membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), reforça que todos os hormônios apresentam uma baixa produção na época da menopausa. A reposição hormonal das substâncias femininas aparece como um caminho para melhorar a qualidade nessa fase, amenizando os sintomas que podem ir desde a ansiedade até os "calorões". Mas, segundo o ginecologista, repor testosterona, inclusive na menopausa, ocorre apenas em casos muito pontuais:
– Existe uma condição que se chama "desejo hipoativo" na menopausa que, às vezes, a pessoa, por uma deficiência muito grande de testosterona, e, após o tratamento de reposição hormonal tradicional, ainda não responde bem. Daí pode se beneficiar da reposição específica de testosterona. São casos especiais, não é todo mundo.
Já a médica Maria Celeste Osório Wender, professora de Ginecologia e Obstetrícia da UFRGS, confirma que os níveis de testosterona na mulher vão reduzindo conforme a idade avança, independentemente da menopausa. Quando chega o fim da vida reprodutiva da mulher e não há reposição hormonal, ocorre uma mudança no equilíbrio do corpo feminino, ressalta a ginecologista:
– Ela deixa de produzir os hormônios femininos e não repõe, passa a ter um balanço diferente, tem quase mais hormônio masculino do que feminino. Se lembrarmos de uma mulher de 70 anos que já está na pós-menopausa e não faz reposição hormonal, vemos o aumento do volume abdominal, deixa de ter gordura de glúteo, mama e quadril, que é a distribuição corporal masculina. Passa a ter aumento de pelos, no queixo, no buço, pode perder o cabelo com maior velocidade. É a prevalência de hormônio masculino
Na menopausa, o ressecamento vaginal pode ser mais comum?
É verdade. Se você está chegando na menopausa ou já adentrou o período, fique atenta ao ressecamento vaginal causado pelas alterações hormonais.
– Quando chegamos na menopausa, perdemos o estrogênio, e as três camadas do epitélio da mucosa vaginal se fundem, formando o que chamamos de atrofia. Há um ressecamento natural da região e perdemos essa qualidade na relação sexual – afirma a médica Simone Regina Vaccaro.
A ginecologista e sexóloga Florence Zanchetta Coelho Marques indica o uso de lubrificantes e hidratantes para auxiliar no desconforto durante a relação, mas destaca que esses itens não tratam a atrofia, pois não reestabelecem a anatomia genital que se modifica após a menopausa.
– O tratamento pode ser realizado com reposição de hormônios por via oral, em gel ou adesivos transdérmicos e por via vaginal. Nas mulheres com restrição ou que não desejam suplementar hormônios, o laser genital e a radiofrequência são boas alternativas – conta a especialista.
Mais sexo, menos chance de menopausa frequente?
Um estudo realizado por pesquisadores da University College London, na Inglaterra, concluiu que mulheres entre 40 e 50 anos que fazem sexo com mais frequência podem ter a menopausa adiada. O resultado foi publicado no periódico científico Royal Society Open Science.
A pesquisa acompanhou cerca de três mil voluntárias por 10 anos. Segundo o trabalho, as mulheres que transam ao menos uma vez por semana têm 28% menos chances de entrar na menopausa precocemente.
De acordo com o estudo, o corpo entenderia que há possibilidade de engravidar e adiaria a interrupção das funções reprodutivas. A pesquisa considerou "sexo" não só penetração, mas também sexo oral e a masturbação.
"Se uma mulher tem poucas relações sexuais ou elas são pouco frequentes, quando se aproximar dos 40 anos, seu corpo não receberá os sinais físicos de uma eventual gravidez", afirmaram Megan Arnot e Ruth Mace, cientistas da University College London e autoras da pesquisa.
Ou seja, segundo as especialistas, quando uma mulher não faz sexo, seu corpo entende que não há chances de ela engravidar e "decide" parar de investir energia na ovulação. Em vez disso, seu corpo poderia investir energia em outra coisa, como cuidar da família. Essa teoria é chamada de "Hipótese da Avó".
Interfere na libido?
A curiosidade pelo assunto é grande."O que é libido?" foi uma das frases mais digitadas por brasileiros no Google no ano passado. A busca muitas vezes está associada à tentativa de achar respostas para os períodos em que a vontade de fazer sexo desaparecer. Dúvidas que independem da idade.
– A falta de desejo sexual pode se dar em qualquer faixa etária. Com mulheres jovens, a tendência é ter uma causa psicológica. Com mais velhas, pode estar relacionada a uma questão hormonal, após a menopausa – pontua a sexóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello.
Corpo pêra
Mulheres no período após a menopausa que acumulam mais gordura nas pernas do que na barriga – o chamado corpo de pera – têm menos risco de desenvolver problemas cardíacos e vasculares na comparação com aquelas com corpo "maçã", mesmo que estas tenham um índice de massa corporal (IMC) saudável. Essa foi a conclusão de um estudo publicado no European Heart Journal.
Conforme a European Society of Cardiology (ESC), esse foi o primeiro levantamento a analisar o local onde a gordura se acumula e sua associação com o risco de desenvolver doenças cardiovasculares em mulheres pós-menopausa com IMC normal. Ele envolveu 2.683 mulheres do Women’s Health Initiative (projeto de saúde feminina dos Estados Unidos), que acompanhou essas voluntárias dos anos 1990 até 2017. Nenhuma das mulheres tinha problema cardíaco quando aderiu ao estudo, contudo, numa média de aproximadamente 18 anos de acompanhamento, 291 casos desses problemas foram registrados.
Fase da vida
No Brasil, a média de idade para da entrada na menopausa é 51 anos - uma fase da vida que, de acordo com a ginecologista e sexóloga Jaqueline Brendler, pode influenciar diretamente na disponibilidade para a vida sexual. Muitas mulheres, por exemplo, já têm estabilidade profissional e filhos que estão, no mínimo, na adolescência. Se forem casadas, só esse fato já pode ser suficiente para que o casal esteja há algum tempo dando mais atenção à vida conjugal e à própria sexualidade.
- A vida sexual prévia à menopausa irá influenciar a continuidade da sexualidade nessa fase. Se antes da menopausa a mulher tinha boa libido, ficava excitada e tinha orgasmo com facilidade, além de uma boa parceria sexual, a qualidade da vida sexual continuará sendo boa.
ALIMENTOS
Ômega-3
A médica Korine Camargo Ingracio diz que esse ácido graxo é um grande aliado contra sintomas desagradáveis. Pode-se encontrá-lo em peixes como sardinha e salmão ou ainda lançar mão de suplementos sob orientação médica.
Proteínas
Leite, ovos e carnes magras contribuem para conter a perda de músculos. E ter menos músculos significa um metabolismo mais lento, com capacidade menor de queimar gordura.
Cálcio
Presente nos folhosos verdes e laticínios, esse mineral é extremamente importante para prevenir a osteoporose, especialmente quando associado à prática de exercícios físicos.
— Embora esteja presente nos vegetais verde escuros, a absorção sempre será maior nos alimentos de origem animal. Leite e derivados podem ser consumidos mesmo por pacientes com intolerância. Nesse caso, utiliza-se os sem lactose — destaca a nutricionista Paula de Oliveira.
Soja
Como o grão tem uma substância parecida com o estrogênio, hormônio perdido com a menopausa, o seu consumo acaba "enganando" o organismo, que entende que o tal hormônio ainda não está em falta. Dá para acrescentar a versão em pó (extrato), leite, iogurtes e o próprio grão, garante Paula:
— É importante colocá-los de molho para que soltem uma película que aumenta a biodisponibilidade nutricional. Depois, é só prepará-los em saladas, por exemplo.
Korine acrescenta que uma das apresentações com melhor absorção de nutrientes é a fermentada, que pode ser encontrada no tofu.
Oleaginosas e sementes
Chia, linhaça e oleaginosas, como castanhas, contribuem para uma melhor lubrificação vaginal, que fica ressecada nesse período.
— Vemos melhora de verdade — garante a médica.
Abacate
Rico em ômega 9, ele ajuda a reduzir o colesterol e os fogachos, segundo Korine. A fruta ainda reduz a absorção dos carboidratos.
Chocolate
Pequenas porções das versões com 70% ou mais de cacau podem ser uma boa saída para driblar a vontade de comer doce.
— Quanto mais amargo, mais saudável. E tem a vantagem que se come menos — avalia Paula.
Água
Paula orienta as mulheres a ingerirem bastante líquido para auxiliar na hidratação do organismo de uma forma geral.