Rossana Silva, Especial
Ao pensar na palavra sexo, você sente preguiça ou olha o relógio para ver quanto falta para estar a sós com seu par? A resposta é um indicador de como anda sua libido. Biologicamente falando, trata-se de um impulso que nos leva a procriar. Na prática, a questão é mais complexa e envolve, especialmente para as mulheres, desde os fatores físicos até questões culturais. Além disso, o nível do desejo sexual pode oscilar de acordo com a fase da vida e da relação (ou da solteirice) na qual você encontra.
– A libido é o desejo. E esse desejo é determinado por uma série de questões, que incluem as hormonais. E depende também do grau de atração que você tem pelo outro. É um dispositivo latente que é acionado por uma atração ou por pensamentos que você tem por outra pessoa – explica a psicóloga e sexóloga Eda Lucia Fagundes.
Nos relacionamentos amorosos, é normal que o termômetro da tesão diminua na mesma proporção da quantidade de anos que o casal passa junto. Enquanto a libido masculina é voltada aos cinco sentidos, a feminina é relacionada ao sistema emocional, de acordo com a especialista. Não estar a fim de sexo é compreensível por algum tempo. Mas fique atenta se o desejo demorar a reaparecer.
– O natural é que o ápice da libido se dê em mulheres jovens, e por mulheres jovens entendemos aquelas antes da fase da menopausa. Se uma pessoa adulta não tem libido, alguma questão há, e isto deve ser investigado por um especialista – sugere Eda.
Um dos primeiros passos para resgatar o desejo é afastar qualquer possibilidade de alteração hormonal ou física (como problemas de tireoide), além dos momentos em que, naturalmente, a mulher vai ter a tesão diminuída.
– Além da entrada na menopausa, é comum que a mulher não esteja disposta ao sexo no pós-parto ou em fases de depressão e em períodos de luto. Mas são muitas as situações que podem causar a baixa de libido, como um sexo com poucas preliminares ou malfeito, mais no tempo do companheiro do que no da mulher. O sexo ruim tira a vontade de repetir o ato _ afirma a psicóloga e terapeuta sexual Izabel Eilert.
Listamos dicas das duas especialistas para levantar a libido. Confira:
COLOQUE O SEXO NA CABEÇA
Quando foi a última vez que uma cena picante passou pela sua cabeça? Quando o sexo desaparece do campo da imaginação, é natural que na vida real tampouco se chegue às vias de fato. A engrenagem da libido funciona por retroalimentação, como destaca Izabel Eilert: quanto mais você pensa em sexo, mais desejo terá; e quanto mais desejo sentir, o número de transas também tende a aumentar. E se o número de transas aumenta, você vai pensar mais em sexo e por aí vai. Mas, nesse quesito, os homens costumam ter mais desenvoltura.
– A mulher pensa muito pouco em sexo durante o dia. Ao ver um outdoor com uma modelo em uma propaganda, ela pode pensar: "Estão usando floral no verão". O homem vai ver a mesma imagem e ter um pensamento erótico – exemplifica Izabel.
O conteúdo do pensamento também é diferente, pois a mulher tende a ter um olhar crítico sobre o seu desempenho. A sugestão é tentar imaginar o sexo de uma forma prazerosa.
– Prepare uma roupa, pense em realizar uma fantasia. Quanto mais o pensamento estiver erotizado, mais fácil e natural será consumar a relação sexual – destaca Izabel.
ESTIMULE A MENTE
Para quem anda com o desejo apagado, é difícil até visualizar qualquer cena íntima. Nesses casos, lançar mãos de recursos como a literatura erótica pode ajudar: livros de bom gosto despertam a libido e trazem o sexo de volta à imaginação. Mulheres que pensam estar sem tempo para pensar em sexo podem começar a leitura de um conto erótico por dia para retomar o desejo de ter relações. Isso porque a literatura cumpre, para elas, efeito semelhante ao que o cinema pornô desperta nos homens, como explica Izabel:
– As mulheres respondem menos ao estímulo visual do que os homens, por isso a leitura é mais indicada, mas é claro que também há quem se estimule com filmes.
DICA! Se você nunca passou por perto das prateleiras de literatura erótica das livrarias, pode começar com obras escritas por mulheres, como Hell, de Lolita Pille, A vida sexual de Catherine M., de Catherine Millet, e Pequenos pássaros, de Anais Nïn. No cinema, a diretora sueca Erika Lust é pioneira na produção de filmes pornôs que priorizam cenas que estimulam o prazer da mulher. Os mais recentes deles são curtas disponíveis na plataforma Xconfessions.
DEDIQUE MAIS TEMPO ÀS PRELIMINARES
Ditar o seu ritmo antes do sexo em si é uma das condições para que as mulheres tenham tempo para deixar que o desejo se manifeste. Muitas vezes a mulher não tem vontade de transar porque não teve tempo se excitar de fato, um processo mais complexo do que o do homem e desencadeado por fatores além do estímulo visual. Então, vá sem pressa: a construção da excitação é quatro vezes mais demorada na mulher, em relação à do parceiro.
– O homem tem de respeitar esse momento, porque, quando o sexo não é bom, foi um sexo no tempo do parceiro, e não do tempo da mulher. Se ela tiver esse tempo da construção, vai ser melhor para ele também – afirma Izabel.
A diferença de ritmo também pode ser vivenciada em relações homoafetivas. Por isso, mesmo que sua parceira seja mulher, procure determinar o seu tempo e conversar abertamente sobre o que você precisa para criar o clima antes do sexo. Nem pense em transar se não sentir desejo, mas estar aberta a criar o clima e as condições para que ele se manifeste conduz a uma relação sexual com mais possibilidade de ser prazerosa _ bem diferente do que você forçar a barra transando se não estiver completamente a fim. E uma transa bem-sucedida aumenta a libido e a vontade de que a próxima vez aconteça em breve.
INVESTIGUE O SEU CORPO
Se as relações sexuais não estão sendo satisfatórias, a tesão tende a ficar lá embaixo. Isso significa que chegou o momento de sinalizar ao parceiro ou parceira que a transa está deixando a desejar. E o processo de aumentar a qualidade do sexo exige da mulher autoconhecimento para mostrar a quem está a seu lado do que ela gosta e o que a deixará realizada na cama. O importante é que o casal reconheça o que é erótico para si e para o outro.
– O que estimula um, pode não estimular o outro, pois esses conceitos são personalizados. Muitas mulheres têm vida sexual apenas por formalidade. E há outras que, apesar de ter a libido alto, são anorgásmicas, pois não conseguem atingir o orgasmo durante a relação sexual. E não é porque elas não tenham tesão, e, sim, porque o orgasmo feminino é um procedimento complexo, com tempos diferentes do masculino – explica a sexóloga Eda Lucia Fagundes.
RECOMECE DO ZERO
Se sua relação atingiu um nível de esfriamento, dificilmente o desejo sexual reaparecerá sem que seja trabalhado. Prepare-se para recomeçar do zero. O momento é de conquistar – e se deixar ser conquistado – como se vocês estivessem se conhecendo agora.
– A mulher pode convidar o parceiro ou a parceira para jantar. E é importante que o par saiba que ela gosta de ser elogiada e recomece pelas bordas. Não parta nunca diretamente para o genital, vá criando o clima para poder voltar a chegar à intimidade. O fato de já terem tido muita intimidade não significa que vão conseguir retomar de onde pararam – alerta Izabel.
Para Eda, se uma conversa franca sobre o assunto não surtir o efeito, pode ser o momento de buscar a ajuda de um terapeuta:
– As pessoas precisam conversar sobre isso, porque é saudável ter vontade de transar com alguém.